Abel é o maior problema do Flamengo. Só não vê quem não quer. Ou é amigo
Abel Braga é um sujeito legal. Ótimo papo, honesto, pessoa bacana. Por isso é tão popular e tem muitos amigos. Foi bom zagueiro, firme, com liderança, e um técnico bem sucedido, campeão brasileiro, da Libertadores, do mundial… Foi. Não é mais e jamais voltará a ser caso não se reinvente. Como? Mais ou menos como fez Tite. Contudo, o atual treinador do Flamengo não dá sinais de que isso possa acontecer. Pelo contrário, segue agarrado a velhos conceitos, colocados em campo por meio de jogadores que formam um dos melhores elencos no país. Mas que jogam como se formassem um time qualquer.
O Flamengo nada conquistou em 2018, mas não era terra arrasada. Fechou a temporada vice-campeão nacional, foi à semifinal da Copa do Brasil e liderou o Brasileirão por várias rodadas jogando boas partidas, e com apenas um volante, Cuellar. Eram necessários ajustes, como fez Renato Gaúcho Portaluppi ao substituir Roger Machado no Grêmio, em 2016. Além da inclusão de novos jogadores, reforços pesados que desembarcaram no Ninho do Urubu, como De Arrascaeta, Bruno Henrique, Rodrigo Caio e Gabigol, sem falar em Vitinho, que chegou no segundo semestre do ano passado. Saíram Réver, Marlos Moreno, Geuvânio e depois Henrique Dourado, além de Lucas Paquetá.
Evidentemente, na comparação entre chegadas e partidas Abel tem em mãos material humano muito superior aquele com o qual trabalharam Maurício Barbieri e Dorival Júnior. Bastaria a ele aproveitar a estrutura herdada e corrigir alguns detalhes, como a dificuldade na marcação de gols — o arame liso — e a postura, que precisava ser mais competitiva. Nada disso. Na entrevista ao blog concedida em março, o treinador deixou claro: "Minha maior preocupação foi tirar um pouco desse toque de bola(…). Flamengo é muita posse de bola e estou tentando tirar isso um pouquinho(…)."
O resultado disso? O time é fraco ao sair jogando sob pressão, não envolve o adversário quando precisa fazê-la circular até achar os espaços, muitas vezes joga numa quase dependência das ações em velocidade, necessitando, para isso, atrair o adversário. Além de levar muitos gols e conceder chances de finalização em doses industriais aos rivais. O site FutDados mostra que o Flamengo é o time com menor percentual de jogos sem sofrer tentos em 2019, entre os da Série A (veja abaixo). Já foram disputadas 22 partidas oficiais e em 16 a bola foi parar nas redes rubro-negras.
Após a conquista do título carioca, domingo, frente ao Vasco, o técnico lembrou as ofensas de botafoguenses no aeroporto a Zé Ricardo, a quem homenageou. Definiu como "inesperada" a derrota para o Peñarol pela Libertadores, jogo que se terminasse empatado, deixaria, hoje, o Flamengo praticamente classificado, mesmo perdendo no Equador. Lá, após a virada da LDU, disse ao ex-jogador Zinho, que trabalhou na transmissão pelo Fox Sports: "Vamos para a guerra no Uruguai contra o Peñarol".
Abel e suas frases de efeito. Que hoje não surtem efeito algum, mesmo cultivando muitas amizades, inclusive na imprensa. E ele é um cara tão legal que acaba poupado. Mas o campo e a bola não têm sido seus amigos.
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