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Frieza marca “entrevista” sem repórteres sobre tragédia no CT do Flamengo

Mauro Cezar Pereira

01/02/2020 19h56

Landim, Dunshee e Belotti na FLA TV: "entrevista" sem entrevistadores – Reprodução

O presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, o vice geral e jurídico, Rodrigo Dunshee, e o CEO, Reinaldo Belotti, se apresentaram nos canais oficiais do clube neste sábado. Em "entrevista" gravada, se propuseram a dar "esclarecimentos sobre a Tragédia no Ninho do Urubu".

O ideal, obviamente, seria uma entrevista coletiva, com os dirigentes enfrentando as perguntas dos jornalistas. Contudo, o que apresentou o Flamengo foi uma série de perguntas e respostas selecionadas pela comunicação do clube e formuladas por uma apresentadora da FlaTV, Luana Trindade, que lia cada questionamento.

Sem repórteres para insistir em alguns pontos quando as respostas não fossem satisfatórias, ou insistir em pontos relevantes, ficou confortável para os dirigentes. Espanta a frieza demonstrada em alguns momentos, como quando Landim respondeu sobre a recente dispensa de cinco dos sobreviventes do incêndio. Caike Duarte Pereira da Silva, Felipe Cardoso, João Vitor Gasparin Torrezan, Naydjel Callebe Boroski Struhschein e Wendel Alves Gonçalves estavam no alojamento quando pegou fogo em 8 de fevereiro de 2019.

O blog formula, abaixo, algumas perguntas que poderiam ser feitas após respostas do trio. Isso se o Flamengo tivesse, praticamente um ano após a tragédia, dado à sua torcida, à sociedade e às famílias dos meninos mortos, respostas em uma verdadeira entrevista. Que deveria ter a presença dos três e de integrantes da gestão anterior, que inauguraram o CT em 2018.

"Estabelecemos um teto", disse Landim sobre os valores oferecidos aos familiares dos garotos para um acordo.

Pergunta: Como esse teto foi estabelecido? Seguindo quais critérios?

Belotti disse que o RH do Flamengo está em contato "bastante amistoso" com familiares dos garotos mortos.

Pergunta: Mas familiares dos garotos mortos reclamam falta de atenção do Flamengo. O que reclamam não é do contato para negociar. Isso é com advogados das partes. O contato que falta é o humanitário, alegam. Os senhores procuraram as famílias quantas vezes para esse tipo de diálogo e quando foi a última vez? Lembrando que se é preciso falar com os respectivos advogados antes de procurar as pessoas, nada impede que o façam.

Sobre o alto faturamento do Flamengo com os ótimos resultados esportivos e a falta de acordo com seis famílias e meia, Landim tentou isolar as fatos, alegando que são processos distintos, o resultado econômico/esportivo e as indenizações. Disse ainda que se o Flamengo estivesse em crise e sem dinheiro isso não anularia as responsabilidades do clube.

Pergunta: Ok, mas se há dinheiro, obviamente é mais fácil chegar a um consenso, não? Sem dinheiro seria mais difícil. Nesse contexto, não lhes causa incômodo saber que há tantas negociações milionárias do Flamengo em curso e os acordos seguem congelados?

O Flamengo não está se recusando a fazer os acordos, disse Dunshee.

Pergunta: O clube tem procurado os advogados das famílias ou simplesmente deixa que decidam aceitar, ou não?

Sobre os sobreviventes recentemente dispensados, Landim disse que o critério foi absolutamente técnico e que não interveio porque não é o papel dele.

Pergunta: Não foi muita falta de sensibilidade dispensar os meninos utilizando critérios absolutamente técnicos, sendo que esses garotos passaram por um gigantesco trauma há menos de um ano? Não é exigir demais que, além de escapar da morte em risco criado no clube, tivessem o melhor desempenho esportivo possível? E do ponto de vista humanitário, além de praticamente verem os amigos morrerem queimados, foi razoável submetê-los a outro momento difícil, a frustração da dispensa, meses depois? Como não é papel do presidente avaliar tão delicado contexto? É papel de quem, então?

Se estivessem presentes à entrevista, integrantes da antiga gestão poderiam ser questionados. Por exemplo:

Os senhores jamais abordaram a questão da documentação (o CT não tinha sequer alvará) em reuniões sobre a construção?

Quando inauguram os módulos do CT no final de 2018, há quanto tempo os senhores não entravam naquele contêiner, se é que estiveram lá algum dia?

Os senhores procuraram, alguma vez, os familiares dos jogadores mortos, para prestar solidariedade?

Não causa incômodo ao ex-presidente ser ovacionado por torcedores em determinados momentos, sendo que em sua gestão foi mantida aquela estrutura onde os adolescentes morreram queimados?

Por que inauguraram o CT em 2018 com tanta pompa se ainda não estava 100% concluído?

E você, o que perguntaria aos atuais e aos SC- dirigentes sobre o assunto?

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Sobre o autor

Mauro Cezar Pereira nasceu em Niterói (RJ) e é jornalista desde 1983, com passagens por vários veículos, como as Rádios Tupi e Sistema Globo. Escreveu em diários como O Globo, O Dia, Jornal dos Sports, Jornal do Brasil e Valor Econômico; além de Placar e Forbes, entre outras revistas. Na internet, foi editor da TV Terra (portal Terra), Portal AJato e do site do programa Auto Esporte, da TV Globo. Trabalhou nas áreas de economia e automóveis, entre outras, mas foi ao segmento de esportes que dedicou a maior parte da carreira. Lecionou em faculdades de Jornalismo e Rádio e TV. Colunista de O Estado de S. Paulo e da Gazeta do Povo, desde 2004 é comentarista dos canais ESPN e da Rádio Bandeirantes de São Paulo.

Sobre o blog

Trazer comentários sobre futebol e informações, eventualmente em primeira mão, são os objetivos do blog. O jornalista pode "estar" comentarista, mas jamais deixará de ser repórter.


Mauro Cezar Pereira