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Com torcida única, SP demonstra respeito e temor pelos que deveria prender

Mauro Cezar Pereira

30/11/2019 13h34

Em 2016, palmeirenses e rubro-negros brigaram em Brasília: chance de apreensão e punição. Houve?

Investigações da Polícia Civil de São Paulo dão conta de que integrantes da Torcida Independente do São Paulo, velha aliada da Jovem do Flamengo, estaria ao lado dos rubro-negros na partida deste domingo, contra o Palmeiras, no Allianz Parque. A secretaria estadual de segurança pública mantém a Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade), cujo trabalho poderia prevenir e punir eventuais ações de violência.

Com esse trabalho de inteligência, que incluiria o acompanhamento dos torcedores que viriam de fora e os que vivem em São Paulo, as autoridades de segurança poderiam não apenas evitar os conflitos, como punir os elementos que participassem de brigas e agressões. Torcidas organizadas do Flamengo, como Jovem e Raça Rubro-Negra, estão banidas dos estádios, mas a absoluta maioria de seus integrantes envolvidos em ações violentas não.

No Brasil se pune o CNPJ, afastam uma organizada, mas penas severas às pessoas são raras. Falta um cadastramento de âmbito nacional que incluiria o maior número possível de brigões, para que os setores de inteligência das polícias civil e militar pudessem ampliar cada vez mais as apreensões, para que sejam levados à justiça. Somente um longo trabalho nessa direção pode reduzir drasticamente a violência conectada ao futebol no Brasil.

Em 2016, quando Flamengo e Palmeiras se enfrentaram em Brasília, uma grande briga teve enorme repercussão. Houve prisões e mais de dois anos depois, condenações. Enquanto não acontecerem mais detenções e os responsáveis não tiverem que arcar com as consequências, a violência entre grupos de torcedores prosseguirá. Ainda mais com medidas como veto à festa na arquibancada, banimento de torcidas, não dos que causam violência.

Na Inglaterra o hooliganismo foi reduzido e em alguns locais erradicado a partir das punições às pessoas, não aos grupos organizados. A receita é de difícil execução, claro, mas segui-la é mais do que necessário, uma obrigação do Estado. Contudo, há o banimento de torcidas, a proibição de bandeiras, de mastros; de instrumentos musicais, do papel picado, ou seja, eliminam a festa. Mas não conseguem controlar os brigões, muito pelo contrário.

Na prática, parte das autoridades temem esses personagens, a ponto de assumirem a própria incompetência, com a adoção de torcida única. Que tal ampliar o cadastramento dos causadores de confusões, dos que têm ficha na polícia, cruzar esses dados entre os diversos Estados do país e fechar o cerco contra eles? Ao partirem para o caminho mais fácil, os homens que tomam tais decisões sacrificam o futebol, com anuência da omissa CBF.

Enquanto isso, seguem por aí os que causam brigas, agendam conflitos, fazem emboscadas, utilizam armas e alimentam ódio, algo que passa longe do limite da saudável rivalidade. A reação do Estado que veta rubro-negros pacíficos por causa da ala (bem minoritária) violenta faz com que esses sintam-se mais poderosos, estimulados a seguirem fazendo o mesmo. E isso vale para palmeirenses e seguidores de outros clubes que surfam na onda da violência. E curtem o respeitoso temor que algumas autoridades por eles demonstram.

 

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Sobre o autor

Mauro Cezar Pereira nasceu em Niterói (RJ) e é jornalista desde 1983, com passagens por vários veículos, como as Rádios Tupi e Sistema Globo. Escreveu em diários como O Globo, O Dia, Jornal dos Sports, Jornal do Brasil e Valor Econômico; além de Placar e Forbes, entre outras revistas. Na internet, foi editor da TV Terra (portal Terra), Portal AJato e do site do programa Auto Esporte, da TV Globo. Trabalhou nas áreas de economia e automóveis, entre outras, mas foi ao segmento de esportes que dedicou a maior parte da carreira. Lecionou em faculdades de Jornalismo e Rádio e TV. Colunista de O Estado de S. Paulo e da Gazeta do Povo, desde 2004 é comentarista dos canais ESPN e da Rádio Bandeirantes de São Paulo.

Sobre o blog

Trazer comentários sobre futebol e informações, eventualmente em primeira mão, são os objetivos do blog. O jornalista pode "estar" comentarista, mas jamais deixará de ser repórter.


Mauro Cezar Pereira