Juninho Paulista fala pela CBF e mostra como a entidade seduz ex-jogadores
Mauro Cezar Pereira
20/09/2019 13h00
Juninho Paulista ao lado de Tite: justificativas fracas para amistosos em Cingapura – Reprodução TV
Há uma ideia que ilude a muitos torcedores e até jornalistas, a de que jogadores de futebol podem fazer a diferença fora dos gramados, quando penduram as chuteiras. Mas a prática evidencia o inverso na maioria dos casos. O que se vê no Brasil é a composição, com homens trocando fardamentos e chuteiras por paletós e mocassins para repetirem discursos pró-CBF. Contestar as idiossincrasias da entidade é para poucos.
Na convocação da seleção brasileira para os inexpressivos amistosos contra Senegal e Nigéria, Juninho Paulista, atual coordenador de futebol da CBF, defendeu a realização das pouco relevantes partidas em Cingapura, a mais de um dia de voo partindo do território brasileiro. "A gente procura jogar em grandes centros e Cingapura é um grande centro", disse o ex-meia, algo que até faria sentido se fizesse referência a aspectos econômicos.
A "Pérola da Ásia", como esse tigre-asiático é chamado, tem menos de 6 milhões de habitantes e é um dos maiores centros financeiros do planeta. Mas jogando bola, ficou em último lugar nas eliminatórias para a Copa da Ásia mais recentes, em chave com Bahrein, Turcomenistão e Taiwan. O time não ganhou uma peleja sequer. Na torneio que classifica para a próxima edição, lidera seu grupo após dois jogos – venceu a Palestina e empatou com o Iêmen.
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Os fatos mostram o quão sem nexo é a afirmação. Se há algo que justifique a viagem até o outro lado do mundo, não é a capacidade futebolística cingapuriana. "Nós temos uma parceria com a Pitch, que é a empresa que organiza os amistosos(…). E numa parceria tem que ser bom para os dois lados", disse Juninho. Bom para ambos, menos para os clubes brasileiros, afinal, cederão atletas que serão levados ao ponto mais distante possível.
Claro, os dirigentes são coniventes, mas isso não invalida críticas à CBF e aos cartolas das agremiações, pela conhecida subserviência. E não a invalida porque o torcedor, personagem muito mais importante do que qualquer presidente, vice ou diretor, é prejudicado com seu time sendo desfalcado. E não é ele quem faz o bizarro calendário cebeefiano. Mas Juninho garante que esse problema está com os dias contados:
"O presidente, o Rogério (Caboclo), ele já disse na posse, que não irá mas acontecer (sic) jogos da seleção brasileira durante jogos da Copa do Brasil e campeonato brasileiro, o Brasileirão. Então esse problema o ano que vem (sic) está resolvido, então a gente teria que lidar com esse problemas esse ano˜, disse o ex-boleiro e agora dirigente (vídeo acima). Depois dele apareceu para coletiva Branco, coordenador das categorias de base da seleção.
O "auxiliar pontual", mais uma invenção da entidade para acomodar jogadores em funções a ela ligadas, será César Sampaio. Há ainda o "Conselho de Craques", com Cafu, Gilberto Silva, o próprio Juninho Paulista; Ricardo Rocha, Zinho, Carlos Alberto Parreira, claro; Jairzinho, Careca, Pretinha e Michael Jackson; e até Muricy Ramalho, que não chegou a dirigir o time verde-amarelo.
Alguns desses ocupam espaços na mídia diante de microfones, o que deveria ser o bastante para recusar qualquer convite do gênero, como faz Tostão. Cada vez fica mais claro que jogar bem não credencia alguém para outras funções fora de campo. A CBF seduz. E como!
Sobre o autor
Mauro Cezar Pereira nasceu em Niterói (RJ) e é jornalista desde 1983, com passagens por vários veículos, como as Rádios Tupi e Sistema Globo. Escreveu em diários como O Globo, O Dia, Jornal dos Sports, Jornal do Brasil e Valor Econômico; além de Placar e Forbes, entre outras revistas. Na internet, foi editor da TV Terra (portal Terra), Portal AJato e do site do programa Auto Esporte, da TV Globo. Trabalhou nas áreas de economia e automóveis, entre outras, mas foi ao segmento de esportes que dedicou a maior parte da carreira. Lecionou em faculdades de Jornalismo e Rádio e TV. Colunista de O Estado de S. Paulo e da Gazeta do Povo, desde 2004 é comentarista dos canais ESPN e da Rádio Bandeirantes de São Paulo.
Sobre o blog
Trazer comentários sobre futebol e informações, eventualmente em primeira mão, são os objetivos do blog. O jornalista pode "estar" comentarista, mas jamais deixará de ser repórter.