Ex-jogadores falam sobre o maior vexame do Fla. Capitão e dirigente rebatem
Mauro Cezar Pereira
17/09/2019 13h43
Em entrevista ao canal do Youtube Paparazzo Rubro-Negro, Obina e Ronaldo Angelim fizeram revelações sobre os bastidores da derrota do Flamengo para o América do México que eliminou o time carioca da Libertadores em 2008 — clique aqui e acesse. O atacante e o zagueiro falam sobre o desleixo na preparação para aquela partida, vencida pelo time mexicano por 3 a 0 e contam que o técnico Joel Santana não sabia que sua equipe poderia ser derrotada até por 2 a 0 ou 3 a 1 que estaria classificada.
Como na partida de ida os flamenguistas venceram por 4 a 2, os gols fora de casa valeriam a vaga, com a classificação rubro-negra mesmo quando o América fez 2 a 0. Cabañas, com dois gols (vídeo abaixo), foi o carrasco do Flamengo. O paraguaio entrou para a história dos fiascos protagonizados pelo clube carioca em certames internacionais ao comandar o incrível resultado na noite de despedida do treinador que ganhara o campeonato carioca dias antes e rumaria para a África do Sul. Lá treinou a seleção que seria anfitriã da Copa do Mundo dois anos depois, mas foi demitido antes de 2010.
"Nós fizemos tudo errado, teríamos que ser eliminados", disse Angelim. O zagueiro conta que o time não se concentrou como deveria. "Tanto que Joel não sabia que 2 a 0 dava a gente, ele acabou fazendo a subsituição e colocou o time mais para a frente (…). Ele achava que dois (2 a 0) estava eliminando a gente, e não estava (…), nós fizemos quatro gols fora de casa. Depois ele veio a entender que 2 a 0 dava a gente", acrescentou.
"Essa história do Joel não saber dos dois gols, né? Estava perdendo de 2 a 0 e ele queria fazer o gol, achava que estava empatado (…). Eu falei para ele: 'Professor, não, estamos nos classificando"', contou Obina, sobre o que teria levado o técnico a promover as entradas dele e Diego Tardelli, dois atacantes, respectivamente nos lugares de Kleberson e Souza, um meia e um centroavante.
As mudanças teriam sido causadas pelo fato de o treinador achar que seria necessário um gol para classificar sua equipe. "Na realidade, ali, para Joel foi feita uma festa de despedida, ele não foi mais como treinador, na realidade o pessoal queria homenagear ele, achava que o jogo era fácil que nós íamos ganhar…", acrescentou Angelim.
"Ficou naquele clima de oba-oba. O placar já era muito bom, mas ainda assim… Fico muito triste, pois é uma derrota que pra mim vai ficar marcada pelo resto da minha vida", desabafou Obina. "E o que aconteceu antes? (…) Faltou uma preparação melhor (…) entramos sem aquecer, chegamos direto para vestir o material e ir para campo", lembrou o zagueiro.
"Chegamos atrasados no estádio, cara. Tudo errado, quem aqueceu mais foi quem ficou no banco. Não tinha foco, para minha aquilo lá era uma decisão (…). O oba-oba foi depois do (título) carioca", contou o ex-atacante. "A maior derrota, para mim, foi aquela para o América do México", resumiu o "Magro de Aço", que seria autor do gol do título nacional no ano seguinte.
"Ainda bem que teve 2009 para a gente dar uma amenizada, não vamos dizer que aliviou essa derrota… Mas eu tive que fazer até uns trabalhos de psicologia, porque eu fiquei um tempo ruim, sem conseguir dormir, às vezes eu sonhava com o jogo, que ainda estava jogando aquele jogo, eu não acreditava que nós tínhamos sido eliminados", revelou Angelim.
Depois da publicação do post, o ex-presidente do Flamengo, Kléber Leite, que estava à frente do futebol do Flamengo em 2008, rebateu as afirmações de Obina e Ronaldo Angelim em vídeo (acima). Nele, o ex-zagueiro Fábio Luciano, capitão do Flamengo naquele ano, também refuta o que disseram os dois ex-jogadores.
"Eu fiquei perplexo com isso (a entrevista de Obina e Angelim) e tive o cuidado de ligar para a maior liderança que eu vi no futebol, que é o Fábio Luciano", disse o ex-presidente do Flamengo nos anos 1990, exibindo o celular com o qual mantinha contato com o ex-jogador durante a gravação do vídeo.
"Nada disso realmente aconteceu", afirmou Fábio Luciano. "Eu não joguei (contra o América do México) porque eu tive uma lesão contra o Botafogo na final do Carioca (…) e fiz os dias todos de tratamento", disse o ex-capitão, assegurando que os jogadores descansaram e dormiram no horário normal na semana da partida.
"Pode ter faltado, sim, a minha liderança dentro de campo, porque, com certeza, se eu tivesse condições de jogar, aquilo não teria acontecido, por que no mínimo eu teria dado uma porrada no Cabañas e acabado com aquela história toda", acrescentou Fábio Luciano. O ex-zagueiro relata que os médicos o desaconselharam a atuar.
"Realmente foi uma fatalidade, dos três gols, dois foram gols contra (…). São coisas do futebol, agora, palavra de honra, o que me deixa profundamente sentido e magoado esse tipo de coisa (…). Como é que uma pessoa pode, do nada, distorcer uma verdade?", disse, ainda, Kléber Leite, afirmando que Joel Santana conhecia o regulamento da competição.
Sobre o autor
Mauro Cezar Pereira nasceu em Niterói (RJ) e é jornalista desde 1983, com passagens por vários veículos, como as Rádios Tupi e Sistema Globo. Escreveu em diários como O Globo, O Dia, Jornal dos Sports, Jornal do Brasil e Valor Econômico; além de Placar e Forbes, entre outras revistas. Na internet, foi editor da TV Terra (portal Terra), Portal AJato e do site do programa Auto Esporte, da TV Globo. Trabalhou nas áreas de economia e automóveis, entre outras, mas foi ao segmento de esportes que dedicou a maior parte da carreira. Lecionou em faculdades de Jornalismo e Rádio e TV. Colunista de O Estado de S. Paulo e da Gazeta do Povo, desde 2004 é comentarista dos canais ESPN e da Rádio Bandeirantes de São Paulo.
Sobre o blog
Trazer comentários sobre futebol e informações, eventualmente em primeira mão, são os objetivos do blog. O jornalista pode "estar" comentarista, mas jamais deixará de ser repórter.