Faltou o gol entre Corinthians e Santos, e não era apenas um detalhe
Mauro Cezar Pereira
10/03/2019 20h27
Clayson, o que mais dribou, quatro vezes; duela com Diego Pituca, o maior passador do clássico: 62 certos
Certa vez Carlos Alberto Parreira disse que o gol era um "detalhe" entre tantos numa peleja de futebol. Foi antes da Copa de 1994, da qual foi vencedor em uma final que terminou, o a 0, a primeira sem bola nas redes em toda a história dos Mundiais. Foi o que faltou no bem disputado Corinthians 0 x 0 Santos, em Itaquera. Duelo tático interessante entre Fábio Carille, treinador que constrói suas equipes a partir de solidez defensiva, e Jorge Sampaoli, técnico que monta times dinâmicos, que desejam a bola, marcam intensamente e buscam o gol. Estilos distintos em duelo franco.
Mostrando que suas preocupações com a retaguarda não significam entrar em campo apenas para não ser vazado, o comandante corintiano pôs pressão na saída de bola adversária e criou desconforto ao argentino. Dominou a peleja pela maior parte da etapa inicial e obrigou seu oponente a reagir. O que aconteceu no segundo tempo, com alterações após o intervalo — saiu Alison, entrou Cueva; e Jean Lucas cedeu lugar a Rodrygo. O time que não finalizara na direção certa fez Cássio trabalhar e os arremates do Corinthians caíram pela metade no segundo tempo.
O Santos teve mais posse de bola (60% a 40%), trocou mais passes certos (333 a 207), o Corinthians finalizou mais (12, sendo dois certos; contra 9, dois no alvo) e forçou o rival a rebater mais do que o dobro da média. O time de Sampaoli, que afastava o perigo despachando a bola para longe 22,5 vezes por peleja, desta vez chegou a incríveis 42. Acima da marca do Bragantino, equipe que mais usa o recurso no campeonato, 37 por aparição segundo o Footstats. O comportamento incomum dos santistas foi forçado pelas ações do Corinthians, uma das razões que fez do duelo muito disputado.
Ação e reação, golpe e contragolpe, veneno e antídoto. Foi uma disputa de estratégias, que mostrou ser, sim, possível partidas de futebol deixarem o viés monotemático que pauta a proposta (pobre) de tantos treinadores em atividade no Brasil. Uma das maiores carências do futebol no país é justamente a falta de diversidade, com muitas equipes jogando fechadas, à espera do erro adversário para chegar a um gol e se fechar. É mais fácil atuar trancado, dificultando o rival e esperando a oportunidade. Neste domingo, em Itaquera, os dois times, por caminhos distintos, procuraram jogar.
Como faltou o gol, e ele não é um mero detalhe, a partida não satisfez como poderia. Até porque se um dos times abrisse o placar, obviamente o outro seria obrigado a reagir, a responder mais fortemente. E o confronto seria mais interessante. De qualquer forma, Corinthians e Santos deram um (pequeno) passo na direção do que pode ser, adiante, algo mais frequente em gramados de terra brasilis: dois times de futebol tentando, com diferentes armas, ganhar o jogo, sem rejeitar a bola, sem se fechar por quase 90 minutos, sem medo de arriscar. Que assim seja.
Sobre o autor
Mauro Cezar Pereira nasceu em Niterói (RJ) e é jornalista desde 1983, com passagens por vários veículos, como as Rádios Tupi e Sistema Globo. Escreveu em diários como O Globo, O Dia, Jornal dos Sports, Jornal do Brasil e Valor Econômico; além de Placar e Forbes, entre outras revistas. Na internet, foi editor da TV Terra (portal Terra), Portal AJato e do site do programa Auto Esporte, da TV Globo. Trabalhou nas áreas de economia e automóveis, entre outras, mas foi ao segmento de esportes que dedicou a maior parte da carreira. Lecionou em faculdades de Jornalismo e Rádio e TV. Colunista de O Estado de S. Paulo e da Gazeta do Povo, desde 2004 é comentarista dos canais ESPN e da Rádio Bandeirantes de São Paulo.
Sobre o blog
Trazer comentários sobre futebol e informações, eventualmente em primeira mão, são os objetivos do blog. O jornalista pode "estar" comentarista, mas jamais deixará de ser repórter.