Depois do "perder é normal", pagar salário atrasado também é?

Abel recebe camisa personalizada do Vasco das mãos de Campello – Foto: Divulgação/ Rafael Ribeiro/CRVG
Na entrevista coletiva de (re)apresentação como técnico do Vasco, para onde voltou após 19 anos, Abel Braga revelou trecho de sua conversa com Alexandre Campello. Nela, contou, o presidente do clube fez uma espécie de alerta sobre a forma como irá remunerar o novo treinador vascaíno. "Ele me disse: 'vou te pagar, mas não pensa que irei pagar em dia"'.
O tom elogioso ao dirigente por ter sido, digamos, sincero, é estarrecedor. Abel tem o direito de trabalhar até de graça pelo Vasco, mas não há nada de positivo nesse tipo de postura. Se o clube não consegue pagar em dia o profissional, por que o contrata? Alguém dirá que isso é problema dos dois. Não é. Quando o comandante aceita tal situação, fica pior para os que também receberem com atraso e não estão dispostos a tolerar isso.
Como reclamar se o chefe acha que, por ter antecipado que não pagará em dia, o presidente do clube merece ser elogiado, mesmo sem cumprir o básico do acordo patrão-empregado? E a situação dos funcionários e atletas que ganham pouco, caso dos jogadores em início de carreira? Se quem escala o time, comanda, acha que tudo bem, obviamente ficará desconfortável para quem é menor nessa escala, esteja insatisfeito, ou não.
Em julho, Thiago Neves minimizou a falta de pontualidade do Cruzeiro na remuneração de seus profissionais. "Os salários estão atrasados, mas qual clube não atrasa?". Mais um caso no qual o profissional fala por ele, talvez por ter alcançado posição financeira confortável, que lhe permite receber o dinheiro muito depois sem sofrer as consequências do não cumprimento do compromisso pelo empregador. Evidentemente nem todo o jogador de futebol pode se dar a esse luxo, para muitos, o problema é enorme.
Esse tipo de reação mostra que o futebol brasileiro segue amarrado às velhas práticas, com raros clubes admitindo suas crises econômicas, cortando custos e se adequando à realidade do momento. Muitos querem certos atletas e treinadores, mesmo custando aquilo que não podem pagar. Pior ainda quando alguns se submetem a isso como se fosse algo aceitável. Desse jeito, como imaginar tais agremiações saindo do buraco financeiro?
No começo do Campeonato Brasileiro deste ano, Abel ainda dirigia o Flamengo e chocou a torcida ao dizer que perder para o Internacional no Beira-Rio e para o Atlético no Horto é "normal". Detalhe, o time mineiro atuou com menos um jogador por metade da partida. Pelo menos desta vez não o ouvimos dizer que pagar salários com atraso é normal, embora seja em muitos clubes brasileiros. É, se dissesse, faria até mais sentido.
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