Fla vence, Jesus critica calendário, cobra clubes, mas o sistema é poderoso
Flamengo líder do Campeonato Brasileiro, sete vitórias consecutivas após os 2 a 1 sobre o Cruzeiro, em Belo Horizonte. Apesar da sequência inédita (jamais os rubro-negros haviam conseguido série de triunfos tão longa na competição), na coletiva após apito final o técnico Jorge Jesus estava irritado com o calendário maluco do futebol brasileiro e seus efeitos colaterais.
O português disse o que pensa, irritado com a convocação que desfalcará sua equipe: "Não entendi muito bem. Tinham dito que ia apenas um por equipe. Na Argentina, o técnico teve o cuidado de não levar do Boca e River. Aqui é mais importante jogar com Senegal e Nigéria. Quem paga os jogadores são os clubes. Os clubes têm que tomar uma posição".
Ótimo que tenha assim se manifestado. O peso do treinador europeu e suas fortes declarações ajudam a expandir além das fronteiras nacionais tal bizarrice, para que lá fora mais pessoas saibam como o esporte é gerido no Brasil. Jesus questionou, também, os clubes, algo importantíssimo no contexto, embora eles não tenham o caminho fácil que as pessoas imaginam.
Como bem registrou Rodrigo Mattos em seu blog no UOL Esporte, "A CBF faz o calendário do futebol brasileiro sozinha, não há votação ou participação dos clubes. As agremiações podem dar sugestões e palpites, mas não têm nenhum poder de decisão". O sistema é muito mais forte e estruturado do que imaginam torcedores e até alguns jornalistas.
Evidentemente os dirigentes de clubes são subservientes, omissos em muitos casos. Em geral facilmente seduzidos pela CBF com agrados, caso dos convites para chefiar delegações da seleção brasileira em amistosos ou certames que dispute. Embora seja uma função meramente decorativa, os dirigentes têm enorme atração por tal posição.
Mas não é simples mexer no calendário sem uma união dos grandes clubes. Contudo, eles costumam, em grande parte, se juntar à Confederação e às federações estaduais. Como em 2015, quando os grandes paulistas votaram, em bloco, no Coronel Nunes, personagem estrategicamente inserido para evitar que o comando cebeefiano mudasse de mãos.
A CBF é a grande vilã com seu calendário que se mantém assim para não encolher os Estaduais, o que desagradaria as federações, donas de 81 votos no colégio eleitoral que escolhe o presidente da entidade máxima. Os 20 integrantes da Série A têm peso 2 e os da B apenas 1, ou seja, juntos os 40 times mais relevantes do país somam 60 votos, 21 abaixo das federações.
É óbvio que as agremiações deveriam seguir o conselho de Jesus e buscar união, mas na prática isso é quase impossível. E um, dois, três presidentes de clubes que resolverem enfrentar o status quo estarão se atrevendo a desafiar o sistema. Como não temer retaliações e/ou o fortalecimento político e nos bastidores de rivais sintonizados com as entidades?
Encarar essa briga é preciso, mas não se trata de algo tão simples como pode parecer, apesar da força popular de times com torcidas gigantescas. A engrenagem que mantém as coisas como estão segue funcionando. Talvez seja o que melhor funcione no futebol brasileiro. Para azar do próprio.
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