Entenda o conflito entre 2 países que impede jogador de disputar uma final
por Aurélio Araújo e Carlos Massari, do podcast Copa Além da Copa
no Twitter @copaalemdacopa
No início desta semana, após dias de indefinição, o Arsenal anunciou que o meia armênio Henrikh Mkhitaryan não disputará a final da Liga Europa contra o Chelsea. A desistência de levar o jogador se deu porque a partida será em Baku, capital do Azerbaijão, país que há anos mantém uma acirrada disputa territorial com a Armênia.
O anúncio foi um vexame para a Uefa, que mantém azeris e armênios separados em todos os seus sorteios. Afinal, transmitiu-se a ideia de que ela falhou em garantir segurança a um único atleta, num dos jogos mais importantes de sua carreira.
Mas, antes mesmo do anúncio do Arsenal, a final em Baku já causava polêmica. O Azerbaijão, situado no limite entre os continentes europeu e asiático, não tem estrutura para receber turistas, e, por isso, apenas 6 mil dos 68 mil ingressos para a final irão para os torcedores de Arsenal e Chelsea.
Além disso, o regime do presidente Ilham Aliyev é conhecido por desrespeitar direitos humanos, prendendo e intimidando ativistas e oposicionistas. Segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras, o país tem a imprensa menos livre de toda a Europa.
O esporte como propaganda
O governo azeri tem um trunfo: muito dinheiro, proveniente do petróleo e do gás natural abundantes no país. Com isso, Aliyev investe pesado na propaganda esportiva: nos últimos anos, Baku entrou no calendário da Fórmula 1 e sediou os Jogos Europeus, além de o país ter patrocinado o Atlético de Madrid com grande aporte financeiro.
O próprio Estádio Olímpico de Baku, palco da final da Liga Europa, é um projeto luxuoso inaugurado em 2015 e que faz parte dessa propaganda de Aliyev. É lá que a UEFA pretende ainda sediar alguns jogos da Euro 2020.
A convergência de esporte e política é natural no país, considerando que Aliyev acumula os cargos de presidente do comitê olímpico nacional, desde 1997, e do país, desde 2003, tendo substituído seu pai, Heydar Aliyev, nessa última função.
Petróleo e gás natural
Independente desde o fim da União Soviética, o Azerbaijão vê seu PIB crescer ano após ano com o impulso dos recursos naturais. Mas, antes mesmo da descoberta desses recursos, seu atual território já era disputado, dada a localização estratégica entre Europa e Oriente Médio.
Na Segunda Guerra Mundial, seu petróleo abasteceu o Exército Vermelho e foi crucial para a vitória dos Aliados. Hitler sabia que precisava tomar Baku para ter a vitória, mas, como a história nos conta, sua campanha pela União Soviética se encerrou muito antes disso.
Após a queda da URSS, com seu pai no comando do país, Ilham Aliyev chegou a administrar a SOCAR, estatal de petróleo e gás natural. A ideia do governo era atrair investimentos estrangeiros com acordos de exploração conjunta dos recursos, e o sucesso do plano impulsionou Aliyev para além da sombra do pai.
Guerra com Armênia
No entanto, a decadência da URSS também reacendeu uma antiga questão: a região de Nagorno-Qarabag, localizada em território azeri mas de maioria étnica armênia, pertence a quem? Entre as décadas de 80 e 90, Azerbaijão e Armênia guerrearam por seis anos até que os armênios vencessem a disputa. A região se considera independente, embora não seja reconhecida por nenhuma nação do planeta.
A guerra acabou em 1994, mas desde então o governo azeri tem tentado apagar o legado armênio em suas terras. Diversos monumentos históricos protegidos pela Unesco foram destruídos, algo que a Armênia já comparou a ações do Estado Islâmico na Síria.
Aliás, a religião é outro componente das tensões: no Azerbaijão, predominam os muçulmanos, enquanto os armênios são, na maioria, cristãos. Para piorar, Mkhitaryan já visitou a região de Nagorno-Qarabag, ação que o coloca numa espécie de "lista negra" no Azerbaijão e faz com que ele perca o direito de entrar no país.
Ainda assim, a UEFA e o governo azeri haviam se comprometido a liberar o visto do jogador e mantê-lo em segurança para a final. A desistência do Arsenal em levar Mkhitaryan, portanto, foi vista no Azerbaijão como uma jogada política para atacar Aliyev. Seja como for, o fato é que ela se tornou mais um argumento para que a comunidade internacional veja com desconfiança o interesse do país nos esportes.
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