Candidato fala em ampliar capacidade de São Januário e revolucionar o Vasco
Luiz Roberto Leven Siano foi advogado do ex-jogador Edmundo por anos. Afirmando que organizou sua vida para ter tempo e se dedicar exclusivamente ao clube, já se lançou candidato para as eleições do ano que vem. O blog conversou com ele.
O senhor quer se candidatar à presidência do Vasco e não mais apoiar quem sempre apoiou? O que mudou?
Leven Siano — Sempre tive uma proximidade com o clube, tenha sido pelo exercício profissional ou por sempre ter me colocado à disposição para ajudar, mas nunca agi diretamente, e sigo ao dispor, mas antes de mais anda sou um vascaíno. Já produzi muito para mim e minha família e acho que chegou a hora de as pessoas saírem de sua zona de conforto e de suas cadeiras para ajudar o clube. Nos últimos anos algumas pessoas têm falado sobre a possibilidade de eu colocar minhas habilidades como advogado e administrador pelo Vasco, sou advogado que trabalha para algumas das maiores empresas do mundo e para o governo dos Estados Unidos. Não sou político, nunca fui, mas é o momento.
Teria tempo?
O Vasco precisa de uma terceira via. Minha semente brotou quando vi (Alexandre) Campello e (Julio) Brant (respectivamente presidente do Vasco e candidato derrotado na controversa eleição de 2018) discutindo na televisão. O Vasco hoje tem as pessoas vivendo em meio a magoas irreversíveis e isso vem prejudicando o clube, proponho aos vascaínos uma terceira opção. Tenho 15 advogados no escritório, já falei com minha sócia, não terei problemas financeiros, tenho muito mais do que preciso, não necessitarei de nada do Vasco, quero colocar minha experiência para o clube. Venho de família humilde, meu pai deixou minha mãe quando eu tinha 9 anos, tudo o que fiz foi estudar e trabalhar, não tive herança e deixarei muita herança. Tenho tempo para me dedicar ao Vasco e fazer o clube mudar de patamar.
Por que o senhor apoiou Eurico Miranda em 2017, apesar das muitas queixas, denúncias, mensalões, balanços polêmicos etc?
Ali, sinceramente, eu não dei apoio político praticamente nenhum. Meu interesse era contar como o interesse do Edmundo, que tinha uma dívida a receber do clube e eu atuei como advogado, como profissional. Quem deve julgar o que Eurico fez é o torcedor. As pessoas que orbitam na política do Vasco precisam voltar a ser Vasco, não podem ser Eurico, Julio ou outros personagens que atuam na política do clube. Como acontece na política está ocorrendo no Vasco, nenhuma pessoa pode ser maior do que a instituição. Quando resolvi abraçar o que pessoas me pediram para fazer pelo clube, até então jamais apoiei politicamente alguém. Mas quando Eurico me pediu apoio e aconselhamento jurídico eu ajudei, como ao Roberto , como entreguei ao MUV (Movimento Unido Vascaíno) um projeto antes de o Dinamite ser presidente, como entreguei planos ao Edmundo e estaria disposto a ajudar Campello ou qualquer outro. Eu não era agente político.
Não seria um sinal negativo o Vasco ter um "processo eleitoral" tão antecipado?
O Vasco tem pressa, como pretendo fazer uma gestão profissional, precisamos de planejamento. Não adianta eu alcançar a presidência para, chegando lá, reclamar da herança maldita, que o caixa é zero etc. Seria um mero projeto de poder, para mim a maior prioridade não e ganhar a eleição, mas fazer um Vasco forte, capaz de fazer o torcedor se orgulhar, o que hoje infelizmente não acontece, o vascaíno se envergonha, está frustrado e para isso precisaremos de tempo e planejamento. Não estou em campanha, mas debatendo com vascaínos de todos os segmentos no sentido de fazer um plano de gestão viável, buscando parceiros, investimentos, para chegar a uma governança corporativa com zero corrupção e conduta ética irretocável. Algo que proteja o clube dos próprios dirigentes. Tudo isso exige tempo e debate. Não comecei uma campanha, mas a debater. Então as pessoas ficam sabendo, e impossível debater sobre o Vasco e soluções de forma secreta. Já me coloquei à disposição da atual diretoria com já ajudei a anterior e a anterior à anterior.
Quanto à articulação política, quem está ao seu lado? Que figuras influentes junto a conselheiros, por exemplo?
Minha candidatura é independente e não pertenço a grupo político algum, hoje são 27 a 28 no Vasco mais do que partidos no país, mas esses grupos atingem uns 20% do colégio eleitoral, então independentemente de grupos políticos quero conversar com o associado. Minha prioridade é montar um modelo de gestão e enquanto isso estou conversando com todos. Tenho professores da FGV no grupo, economistas, banqueiros, empresários de vários setores, médicos, advogados, engenheiros, uma serie de atores que participam da vida politica, do clube, torcedores que são sócios e que estão se encantando com a proposta.
Tem receio de acontecer o que houve com Julio Brant?
Não, essa possibilidade é zero. Tenho baixa rejeição porque as pessoas que e forem pesquisar minha trajetória profissional verão que ela não é um factoide, ela existe, sou alguém bem-sucedido em sua vida profissional que cansou de perder. Não digo que Julio seria um sucesso ou não, mas as pessoas se tocaram que foi um grande erro que não se repetira comigo, ou seja, com quem for.
Como viu a eleição de Campello depois que Julio foi escolhido pelos sócios?
Campello e o Vasco estão pagando por esse erro pela falta de sinergia entre time, clube e torcida, não existe credibilidade e ninguém capaz de conquistar confiança, fundamental para ajudar o clube com credibilidade e contatos. Como fazer isso nas circunstâncias políticas pela qual o presidente entrou? O problema do Vasco é político.
Quais os pilares de sua gestão, se vencer a eleição?
Quatro: time forte; governança transparente como zero tolerância para qualquer tipo de corrupção, nepotismo e que tira a confiança do mercado; o Vasco tem uma das mais bonitas histórias, sempre defendeu a inclusão social e temos isso no DNA do clube, então temos que resgatar a popularidade do futebol, que se tornou inatingível para o povo e vamos resgatar a ideia de um time popular e fazer o torcedor olhar para o Vasco e entender que o clube está com ele. O Vasco lutou contra o racismo, mas procure quantos negros existem no conselho do Vasco. Quase não tem mulheres e negros no Conselho do Vasco, quero abrir espaço para todos dentro do clube. O quarto pilar seria o Vasco pacificado, algo hoje mais difícil do que montar um time forte.
Como fazer time forte na situação financeira atual?
O Vasco tem um orçamento superior a 92% dos municípios brasileiros. Claro que é preciso inteligência financeira, ganhar confiança dos próprios credores. Veja a dificuldade para contratar um treinador. As pessoas não confiam no clube. A turbulência política está enterrando o clube.
Como vê a relação Vasco com o judiciário? Todo dia tem processo diferente… O senhor, inclusive, ganhou diversas ações, como seria estar do outro lado, como réu?
Os atletas são profissionais, diretores, treinadores, ninguém fica com raiva de quem atuou em outros clubes e vieram para o Vasco, como Tite, Bebeto, Romário, Edmundo, Petkovic, ninguém ficou com raiva deles mesmo tendo jogado pelo maior rival. Mas quando surgem os atores administrativos vem uma implicância. O clube precisa de uma gestão profissional em outros aspectos. Essa atuação foi um grande aprendizado de como não se deve fazer e como e importante uma instituição ser respeitada pelos investidores. Quanto a relação do Vasco com o judiciário, de uns 16 mil que tive em minha vida profissional foram cerca de 10 entre 2001 e 2011, sendo que me torneio sócio em 2014 e no caminho passei a outro advogado um processo que tinha do Edmundo. Por uma questão de foro íntimo. Brant, Campello, Edmundo, Zé Luiz Moreira tiveram ou têm ações contra o Vasco, mas achei que ao me candidatar deveria evitar essa situação. E as ações nas quais estive envolvido eram questões de falta de pagamento de salário. Sou advogado de grandes empresas, como Volkswagen, Hyundai, AON etc. Essas empresas só entram em um investimento em quem tem compliance (nota do blog: conjunto de regras a seguir que cumpram normas legais, políticas e diretrizes de um negócio e atividades da instituição), o que o Vasco não possui. Temos hoje um vice-presidente ocupando a presidência, pois a VP de futebol é a grande ambição. Isso precisa mudar.
Roberto Dinamite tem aparecido ao seu lado, ele terá algum papel na candidatura e eventual gestão?
Todo ídolo deve ser tratado como tal e lamento profundamente a aversão que muitos vascaínos criaram em relação a ele por não ter tido, como presidente, uma gestão como o esperado. A paixão que os vascaínos pelo Edmundo, com pouco mais de 100 gols pelo Vasco e de quem fui advogado por 20 anos, quando ele fez mais de 700 gols pelo clube, e o maior artilheiro do campeonato brasileiro, maior goleador dos clássicos Vasco x Flamengo, Botafogo e Fluminense. Esse papel de ídolo deve ser resgatado. Edmundo, ele e outros merecem esse espaço.
Mas Roberto elevou a dívida e erros cometidos em sua gestão permitiram a volta de Eurico…
Cada um colhe o que planta, a oportunidade foi dada, o Vasco teve o título da Copa do Brasil, Nissan e Eletrobras como patrocinadores masters com valores maiores do que o atual. Mas não posso ficar olhando para o passado. Roberto ganhava com facilidade para deputado estadual e depois não conseguiu se eleger sequer vereador, mas não me cabe ficar preso a isso esquecer que o clube precisa preservar e garantir uma apreciação pelos seus ídolos. Como ver o Flamengo sem Zico? E o Vasco sem Roberto? Ele fez 708 gols, mas não foi na carreira, mas com a camisa do Vasco. Deu cinco campeonatos cariocas e um brasileiro ao clube, não pode ser tratado como alguém sem importância na história do clube.
E a transparência da venda de jogadores da base etc?
Transparência total, corrupção zero, parte de um programa de compliance corporativo, o gestor não pode ser transformado num grande administrador de caixa 2. Temos que organizar as finanças de tal maneira que possam ser transparentes. Temos que obter o quanto antes as certidões de débitos fiscais para receber o que lhe e devido e poder trabalhar com empresas públicas. É possível estabilizar e estancar a sangria. Cerca de 20% vem de penhoras que podem ser contornadas. O discurso de coitadinho de mim e conveniente e ajuda a obscuridade. A muitos interessa parecer deficitário, errado, o que faz com que tenham sempre escusas para arrumar uma maneira de alegar que o credor vai penhorar etc. Para ter transparência no futebol necessita profissionalizar o clube como um todo.
Como serão em sua gestão os projetos para a associação?
Se você olhar para o tamanho do Vasco em relação a outros clubes, é pífio o número de sócios torcedores do clube. Hoje, após tantos anos de mazelas e perda de confiança, o torcedor não acredita em nada, precisamos recuperar essa confiança e então ampliar essa participação com o crescimento do sócio torcedor. Ele não quer pôr o dinheiro dele numa caixa preta. Na minha cabeça, e isso vem sendo debatido por nós, a ideia e criar uma contribuição na qual o sócio saiba exatamente para onde vai o percentual do dinheiro que ele paga mensalmente. A ideia é que 79% da participação do Sócio Torcedor seja voltada a contratação de jogadores que, se possível, os torcedores escolherão e 20% iria para a redução das dívidas do clube e 1% para ações sociais.
O senhor defende o voto do Sócio Torcedor?
Sou a favor de eleição direta. Até entendo a posição dos beneméritos, mas a benemerência se perdeu ao longo dos anos com pessoas que talvez não merecessem ganhando esse título. Esse grupo deveria ser uma âncora, um alicerce das tradições do Vasco, mas o presidente não tem poder para mudar isso. Não adianta chegar chutando a porta, esse foi um erro do Julio, acredito que essa seja uma agenda do Conselho Deliberativo. Concordo que a expectativa do associado foi de que o Julio seria o presidente, mas quem trouxe o Roberto Monteiro para dentro do Vasco foi ele.
O Vasco tem torcida nacional, como o Flamengo, cujo programa Sócio Torcedor não é atraente para quem mora fora do Rio de Janeiro. Seu plano de governo pensa no vascaíno que vice longe da sede?
Sim, o vascaíno de Manaus ficara feliz por poder ajudar a escolher quem será contratado. Por que não criar um aplicativo e levar o Vasco para jogar nas cidades onde forem adquiridos mais produtos do clube, por exemplo. Temos que entregar serviços ao torcedor. Tente ir ao banheiro do torcedor na arquibancada de São Januário. É um absurdo. Tanto esse que vai aos jogos como aquele que torce em todos os cantos do Brasil precisa ser olhado e algo deve ser entregue a ele. O clube tem que entregar um serviço e olhar o torcedor como um consumidor. O atleta quer dinheiro e atenção, carinho, assistência, temos que tratar assim para que ele escolha ficar no Vasco, temos que criar empatia com jogadores e torcedores. Empatia e tolerância são elementos que devem ser trazidos para dentro do clube. Quando vou para o Twitter tomar porrada, estou fazendo um exercício de empatia, quero entender os anseios dos vascaínos, e para isso é preciso tolerância.
Nomes para a Vice Presidência de futebol: é cargo técnico ou político?
A estrutura do futebol existe e precisaremos de um vice de futebol que seja capaz desfazer uma interface com a presidência que tem outras demandas responsabilidades, alguém cuidando do futebol, e estabelecendo as estratégias necessárias, um diretor de futebol, um coordenador técnico e um treinador, os três últimos profissionais remunerados. Podemos discutir a possibilidade de blindar o futebol e tirar a influência dos empresários que são agentes que cuidam dos interesses dos atletas, podemos até criar um grupo que faça esse trabalho pelo lado do clube, como corretores, de maneira que evite o contato dos dirigentes com esses empresários de atletas.
Qual seu plano para São Januário?
Vasco é um clube do povo e São Januário está inserido numa área de favela, tem que haver integração da Barreira com o clube e o estádio pode ser melhorado, existem ações que podem ser feitas para, aumentando a capacidade de público e aumentar o conforto do torcedor sem investimentos estratosféricos, mas apenas ao olhar para o torcedor. A área vip está sempre vazia e pode voltar a ser arquibancada e ampliar o público, como fechar o anel da ferradura, além de melhorar oi atendimento. Eurico preferiu reduzir capacidade do que inserir monitoramento de câmera para atender o estatuto do torcedor. Podemos ampliar São Januário sem transformar numa arena elitista, o Vasco é um clube popular e tem que usar isso a seu favor, se outros tem arenas com ingresso a R$ 300, isso é problema dos outros, o Vasco tem esse DNA de clube popular, que deve ser trabalhado.
Qual sua avaliação sobre a marca do clube?
Fala-se muito que o Vasco é uma marca forte. Não é mais, temos que trabalhar isso. Lutou contra o racismo, mas quantos negros o Vasco tem no Conselho? Vamos melhorar a infraestrutura de São Januário atender o torcedor e pensar na criação de espaços para estacionamento, lojas para as proporias torcidas fazerem associação com o clube de forma licita, a utilização dos símbolos do Vasco.
Sobre o Maracanã, qual sua opinião?
O Vasco tem torcida para encher o estádio e ganhou o direito de usar o lado direito, mas o que aconteceu na final da Taca Guanabara não tem sentido, com torcedores entrando no meio do jogo. Os clubes precisam de agenda comum e capacidade de sentar e resolver juntos seus problemas maximizando resultados financeiros, aquilo foi absurdo como na final do campeonato carioca quando o Vasco levou o jogo para o Engenhão. Com clubes em situação financeira complicada abrem mão de fazer caixa tomando certas decisões.
Como reerguer o Vasco financeiramente sem passar por grandes apertos dentro de campo?
Conseguindo equilíbrio no manejo das finanças, com escolhas técnicas e metodologia para ampliar o programa Sócio Torcedor e buscando investimentos e parceiros. Tenho contato com empresas brasileiras e do exterior, elas abrem muitas portas de contatos para oportunidades comerciais e começamos cedo a trabalhar para ter tempo e atrair parcerias e investimentos muito antes de ter a caneta na mão. Tenho viagens agendadas para diversos locais e países venho trabalhando nesse sentido de realmente possibilitar dinheiro novo que conforme uma gestão de nova governança junto com estratégias jurídicas e financeiras. Se não for para fazer um time forre nada funciona, o vascaíno tem pressa e não pode continuar sofrendo e precisa voltar a ter orgulho de ser Vasco
Qual sua visão em relação as proibições às torcidas organizadas? Faria algo para ajudar as festas dos torcedores?
Eu sinto falta da Força Jovem do Vasco e estaria disposto a apoiar a sua volta ao estádio, mas sem promover violência, mas sim pelo entendimento. Tenho uma agenda para as organizadas, mas para que ela possa fluir, deve existir um compliance com relação ao comportamento, desde o fim de cânticos homofônicos até um comportamento que comprove e estimule a paz. Essas seriam as contrapartidas. Vamos sentar com as torcidas e já sentei para conversar com algumas delas, disse que sou favorável que estejam nos estádios, mas em comportamento harmônico com o clube.
Pretende manter e ampliar os esportes olímpicos?
Por meio de leis de incentivo, parcerias esportivas outras ações. Podemos ter os esportes olímpicos atuantes basquete e remo especialmente, com competitividade, além de planejar um time de vôlei e o time de futebol feminino. Que faz parte de um dos pilares, o da inclusão.
Como aconteceu seu rompimento com Edmundo, de que foi advogado por anos?
Não sei se houve um rompimento. Edmundo é meu amigo e uma pessoa que considero muito, mais que amigo, é família. Mas ele já esta comprometido com um grupo político. Desde que expliquei a que por virar agente político deveria passar o processo a outro advogado, o Mário Bittencourt, não nos falamos mais. Não poderia mais trabalhar em processos contra o clube. Era meu último contra o Vasco.
Campello x Brant, de que lado está?
Vasco.
O Vasco terá um Centro de Treinamento? Como?
Mais de 20 clubes brasileiros têm CT e precisamos correr para corrigir essa defasagem. Estou estudando os terrenos que o Vasco já tem, cedidos pela prefeitura. Buscando com a marinha e forças amadas parcerias também,
Como define Eurico Miranda para o Vasco?
Teve coisas boas e ruins, o vascaíno tem que fazer esse julgamento, ele teve bons momentos, com o nome gritado na arquibancada, e maus momentos. Mas meu olhar é para o futuro, não quero ficar preso a questões de nome e personagens políticos, isso faz muito mal ao Vasco.
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