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Mauro Cezar Pereira

A próxima nota oficial do Flamengo vai repudiar os "falsos rubro-negros"?

Mauro Cezar Pereira

03/05/2019 16h10

Times da Série A que mais gols tomou em 2019, equipe da primeira divisão que menos vezes saiu (seis em 24 partidas) de campo sem ser vazada na temporada. Futebol sem padrão, fraco, inferior ao que apresentava no ano passado, algo evidente em derrotas para Fluminense, Peñarol, LDU e Internacional. Com um dos mais caros elencos da América do Sul, corre sério risco de ser eliminado da Copa Libertadores na próxima quarta-feira.

Essa é a realidade do Flamengo atual, com o treinador Abel Braga fazendo um trabalho muito aquém do esperado, mesmo tendo em mãos um excelente grupo de jogadores, estrutura, salários em dia etc. Qualquer pessoa que conheça o clube sabe que em cenário do gênero é absolutamente impossível que reine a paz. E nem deve reinar. Afinal, se assim está bom, significa que nada mudou na gestão do futebol rubro-negro em relação a 2018.

Mas a nota oficial emitida por dirigentes dá a sensação de que um dos grandes problemas do clube nos anos anteriores segue existindo: a tolerância com a derrota. Ao invés de indignação com tudo o de ruim que vem acontecendo no futebol, o texto divulgado no site às 11h47 desta sexta-feira é uma passada de pano oficial, um abraço à mediocridade, uma espécie de ode à derrota. Algo que menospreza a inteligência do torcedor.

E não é só. A nota foi publicada pouco antes do meio-dia sem que todos os integrantes do Conselho Diretor dela soubessem. Muitos tomaram conhecimento via Whatts App, quando rubro-negros, estarrecidos, já liam as mal traçadas. Será que todos concordam? Por que não foi assinada apenas pelos que a redigiram? Seria importante quem defende a permanência da situação, o deixar tudo como está, assumindo publicamente tal postura.

A nota oficial emitida nesta sexta-feira pelo Flamengo: como se vivessem em uma espécie de universo paralelo

Dirigentes do Flamengo desmerecem, na nota, o trabalho dos jornalistas que acompanham, conhecem e apuram os bastidores do clube. Algo fundamental para que os torcedores, que sofrem com fracassos há anos, não fiquem sem saber o que realmente se passa. Parece que por lá há quem creia, e queira, uma imprensa subserviente, incapaz de apurar os fatos, e também cega, como se não estivéssemos vendo o mau futebol do time e seus efeitos colaterais.

Como se não soubéssemos que Abel Braga foi escolha de uma ala e que outra preferia nomes como Guillermo Barros Schelotto (ex-Boca Juniors) e Jorge Sampaoli. Alguns que acreditavam em sucesso com o treinador já perceberam sua incapacidade diante do desafio de montar um bom time. E os autores da nota confundem o básico quando escrevem "às vésperas de jogos importantes", como se jornalistas devessem escolher quando dar notícias para não atrapalhar A ou B. Patético.

Pueril o começo do texto: "Um time campeão da Florida Cup, superando um dos possíveis finalistas da Champions League". Difícil acreditar que possa ser sério. Citam um torneio de pré-temporada nos Estados Unidos no qual Erik ten Hag escalou o Ajax com apenas um titular da equipe que hoje brilha na Liga dos Campeões: David Neres. Mais: o ex-são-paulino ainda não era dono da posição, ou seja, alternava entre o banco e o campo, houve até proposta da China (Guangzhou Evergrande), que acabou sendo recusada.

O Ajax que enfrentou o Tottenham: só David Neres jogou contra o Flamengo em janeiro

O Ajax foi a campo com Lamprou; Kristensen, Schuurs (Veltman), Magallán e Sinkgraven (Bakker); Eiting (Jensen), Gravenberch (De Wit) e Labyad; David Neres (Ekkelenkamp), Huntelaar (Traoré) e Cerny (Lang). "Para se ter uma ideia de como o Ajax encarava aquele jogo como um treino de luxo, foi a primeira partida de Veltman após recuperação de rompimento do ligamento cruzado no joelho, em abril do ano passado. Era só para ganhar ritmo", destaca o jornalista especializado em futebol holandês Felipe dos Santos, do site Espreme a Laranja. "Muitos daqueles jogadores estão mais focados no time B do Ajax, que disputa a segunda divisão holandesa", acrescentou.

Portanto, não é errado afirmar que o time holandês, derrotado nos pênaltis, pelo Flamengo era TODO reserva, ou, sendo mais preciso, nenhum dos integrantes do 11 inicial tinha status de titular na época. Além disso aquela ainda era a equipe de Maurício Barbieri/Dorival Júnior, Abel ainda não a havia destruído com suas ideias de tornar o time com menos posse de bola, basicamente de contragolpes, algo de que parece já ter desistido.

Segue a nota com "Um time campeão inconteste do Campeonato Carioca", como se obrigação fosse feito heróico. Ignoraram a diferença de investimento para os demais, na tentativa de supervalorizar o certame estadual. Título assim até Eduardo Bandeira de Mello conquistou. Um par de vezes!

E tem mais: "Um time que lidera seu grupo na Libertadores". Faltou destacar que já deveria estar classificado e pode ser eliminado na fase de grupos, mesmo com investimento 2,5 vezes superior à soma dos três outros da chave. Sim, segundo o site Transfermarkt, o elenco do Flamengo está avaliado em €96,25 milhões, a LDU em €19,25 milhões, Peñarol €16,30 milhões e San Jose de Oruro €4,18 milhões. Sozinho o zagueiro Leo Duarte aparece valendo praticamente o mesmo que todo o elenco boliviano.

A diretoria do Flamengo já deveria ter aprendido que nem toda a imprensa é cordata e amiga, que ainda existem em atividade jornalistas (não confundir com ex-jogadores que empunham microfones) que fazem trabalho isento. E nem é necessário acrescentar à nota que o jogo Peñarol x Flamengo pode repetir San Lorenzo x Flamengo de 2017. O torcedor parece ciente disso. E com um time muito mais forte.

Veja as diferenças, o que mudou em dois anos, time bem mais caro. Abaixo os jogadores escalados por Zé Ricardo na oportunidade, em parênteses os que saíram do banco de reservas naquela derrota do Nuevo Gasometro e ao lado quem ganhou espaço no time ou foi contratado depois. Note que apenas Arão foi titular em 2017 e segue dono da posição.

Muralha – Diego Alves
Rodinei
Réver – Léo Duarte
Rafael Vaz – Rodrigo Caio
Trauco
Márcio Araújo – Cuellar
Willian Arão
Gabriel (Matheus Sávio) – Everton Ribeiro
Everton (Juan) – Bruno Henrique
Berrío (Rômulo) – De Arrascaeta
Guerrero – Gabigol

Se o Flamengo avançar na Libertadores, quarta-feira, em Montevidéu, obrigação de quem se enfiou em tal problema, ganhará fôlego para arrumar a casa. Mas o time não passará a jogar o que pode, e deve, apenas por um resultado que eventualmente alcance. E se for eliminado na fase de grupos mais uma vez, será vexame pior do que há dois anos, pela diferença ainda maior em relação aos adversários. Caso aconteça, será que a atuante comunicação do clube vai emitir nota repudiando os "falsos rubro-negros"?

 

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Sobre o autor

Mauro Cezar Pereira nasceu em Niterói (RJ) e é jornalista desde 1983, com passagens por vários veículos, como as Rádios Tupi e Sistema Globo. Escreveu em diários como O Globo, O Dia, Jornal dos Sports, Jornal do Brasil e Valor Econômico; além de Placar e Forbes, entre outras revistas. Na internet, foi editor da TV Terra (portal Terra), Portal AJato e do site do programa Auto Esporte, da TV Globo. Trabalhou nas áreas de economia e automóveis, entre outras, mas foi ao segmento de esportes que dedicou a maior parte da carreira. Lecionou em faculdades de Jornalismo e Rádio e TV. Colunista de O Estado de S. Paulo e da Gazeta do Povo, desde 2004 é comentarista dos canais ESPN e da Rádio Bandeirantes de São Paulo.

Sobre o blog

Trazer comentários sobre futebol e informações, eventualmente em primeira mão, são os objetivos do blog. O jornalista pode "estar" comentarista, mas jamais deixará de ser repórter.