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Mauro Cezar Pereira

Maracanã: Vasco diz que Fla o procurou antes do Flu e fala em torcida única

Mauro Cezar Pereira

09/04/2019 14h01

O Vasco não pretende aceitar passivamente a concessão do Maracanã ao Flamengo. Em entrevista por telefone ao blog, o presidente Alexandre Campello criticou a maneira como o governo do Estado do Rio encaminhou a situação. Ele assegura que não levará mais partidas para o estádio e garante que fará todos os jogos com mando do time em São Januário, nem que para isso seja preciso adotar torcida única diante de alguns adversários.

O presidente  Alexandre Campello: não mais como mandante no Maracanã

Por que a mudança de local para o primeiro jogo da final carioca?
Entre os motivos, o alto custo do Maracanã, por uma série de dificuldades. Vínhamos melhorando a relação, mas com a saída do Mauro Darzhe (diretor presidente do Complexo Maracanã) a situação piorou. Para dar uma ideia, domingo, antes do jogo com o Bangu, queríamos mostrar um vídeo institucional sobre o Vasco. Ao final havia uma frase, "o Maracanã é de todos. Mas foi censurado. São muito grandes as dificuldades para se operar e negociar as coisas lá dentro.

E a concessão, pesou quanto?
Sim, também pelo fato de Flamengo e Fluminense passarem a administrar o Maracanã, que deixa de ser um campo neutro.

Mas o Vasco vinha levando jogos para lá…
Exatamente. Desde que assumi vínhamos trabalhando com o Maracanã porque sempre tivemos o entendimento de que é importante o Vasco estar no Maracanã, onde sempre esteve. Temos um estádio para 20 mil pessoas e não podemos jogar exclusivamente lá. Entendemos que o Maracanã é um estádio do povo, do Estado, não de um clube. Deveria ser um campo neutro, que poderia ser administrado pelos quatro grandes em harmonia, como uma forma de alavancar receita para todos.

E o que fizeram?
Lá atrás começamos a conversar com o consórcio e mostrar que o custo é elevado, que em Brasília o estádio também é grande, mas o empresário ganha e paga as passagens, a logística dos dois times, custos das duas federações e ainda recebemos dinheiro. Os clubes no Maracanã têm prejuízo. Em Vasco x Bangu foi de R$ 300 mil. Na final da Taça Rio restaram a Vasco e Flamengo R$ 50 mil para cada. Sem computar outros gastos que poderiam ser contabilizados, como danos em cadeiras. Tentamos quebrar o monopólio dos serviços, que devem ser executados da maneira como quer o contratante, não por quem presta o serviço. E é assim que funciona no Maracanã. Dali sai uma conta absurda. O Vasco jogou no Maracanã e na véspera houve uma festa, quem paga a água e luz daquele evento? Em muitas coisas os clubes pagam a operação do mês inteiro. Com os clubes sem ganhar em camarotes, marketing e ações comerciais, visitação de turistas, alimentação, tudo.

Como o Vasco viu a concessão à dupla Fla-Flu?
Não se pode fazer o que o governador (Wilson Witzel) está fazendo, privilegiando um clube em detrimento dos outros. Isso vai gerar mais um fator de desequilíbrio entre os clubes. Estão querendo transformar o futebol brasileiro em futebol espanhol, e é contra isso que nós estamos lutando. O Maracanã tem que ser uma ferramenta de todos, não somente do Flamengo, que antes nos procurou para irmos juntos pela concessão.

Como seria isso?
O Vasco se associaria ao Flamengo e deixaríamos Fluminense e Botafogo jogarem lá, mas o Flamengo ficaria com parcela maior, o Vasco outra, inferior, e os dois outros uma ainda menor. Mas eles (Flamengo) ficariam com o controle da gestão. Recusamos e então eles foram falar com o Fluminense, que aceitou. Duvido que tenham uma administração compartilhada, pois o ponto de discordância conosco foi justamente o controle da operação, por que seria diferente uma parceria com outro clube?

E o Fluminense?
Vai a reboque. Sei qual é o trato entre eles, o Fluminense está preocupado com migalhas, em não ter prejuízo nos jogos. Propuseram irmos com eles e alijar o Fluminense, mas o Flamengo teria o controle absoluto da gestão. Não concordamos. Tínhamos que encontrar um ponto de equilíbrio, produziu mais, ganha mais, mas administrando juntos. Tem muita coisa que já causou surpresa, como a reunião do Flamengo já marcada para quarta-feira (Nota do blog: o Conselho Deliberativo do Flamengo se reúne nesta quarta-feira, às 19h30, exclusivamente para para aprovar a minuta do contrato envolvendo o Maracanã), assim como o próprio projeto. Em uma semana mudaram o edital duas vezes e ainda assim entregaram ao governador. Que pressa e velocidade são essas? Isso nos faz entender que existiam conversas anteriores.

O Vasco fez proposta concreta?
O governador queria ouvir os clubes, falei que tinha interesse. Na terça-feira isso foi falado e na sexta levei um esboço com ideias que poderíamos desenvolver, com os quatro grandes participando.

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E depois?
O primeiro edital alijava todos os clubes, depois deixaram um só item financeiro, que habilitou apenas o Flamengo.

O Vasco não mandará mais jogos no Maracanã?
Deixou de ser um campo neutro, vamos comunicar oficialmente à Federação do Rio e à CBF que todos os jogos do Vasco serão em São Januário. Se acharem que não há segurança, vamos com torcida única.

Mas o Vasco está mudando o jogo final de domingo para o Nilton Santos, o Engenhão – leia no blog de Rodrigo Mattos. É outro estádio erguido e reformado com dinheiro público e concedido a um clube, o Botafogo. Não é caso parecido com o do Maracanã?
Sim, também podemos questionar, mas isso é algo que já aconteceu e não posso mais mudar essa história. No presente podemos agir.

A relação com o Flamengo melhorou em 2019, houve homenagem do Vasco após a tragédia do CT. Agora ela volta a ficar ruim?
A relação entre os dois clubes não precisa ficar ruim. Não estamos em guerra com o Flamengo. A coisa é com o Estado, estamos defendendo os interesses Vasco. O grande erro é do governador, que esteve no Maracanã de bermuda e camisa do Flamengo se prontificando a entregar o troféu da Taça Rio, até que o elevador enguiçou e ele não conseguiu chegar ao campo. Acho inadequado.

Se o Vasco vencesse a Taça Rio ele não entregaria o troféu?
De camisa do Flamengo? Aí não, né? Me parece que não daria…

A homenagem de um dirigente rubro-negro ao deputado Rodrigo Amorim (PSL-RJ), ligado ao governador, faz parte desse jogo de bastidores pelo Maracanã?
Não posso afirmar, mas sabemos que o Flamengo vem agindo intensamente nos bastidores. Se aquilo foi com essa intenção, não sei. E chama a atenção a maneira como as coisas aconteceram, a velocidade, e a pressa. Se é uma concessão provisória, para que isso?

O senhor acha que ela será definitiva?
Ficarão por um período, que pode ser prorrogado, então vão ficando… Depois de um ano lá, quem tira?

A Federação de Futebol do Rio de Janeiro (FERJ) vai aprovar o Vasco x Flamengo de domingo no Engenhão?
A Federação só tem que acatar nosso pedido. Se fosse Vasco x Fluminense na final, onde seriam os jogos? A própria FERJ informou que esse confronto não seria mais no Maracanã (Nota do blog: devido à disputa dos clubes pelo lado direito, setor sul). Vamos para o Nilton Santos, com duas torcidas.

 

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Sobre o autor

Mauro Cezar Pereira nasceu em Niterói (RJ) e é jornalista desde 1983, com passagens por vários veículos, como as Rádios Tupi e Sistema Globo. Escreveu em diários como O Globo, O Dia, Jornal dos Sports, Jornal do Brasil e Valor Econômico; além de Placar e Forbes, entre outras revistas. Na internet, foi editor da TV Terra (portal Terra), Portal AJato e do site do programa Auto Esporte, da TV Globo. Trabalhou nas áreas de economia e automóveis, entre outras, mas foi ao segmento de esportes que dedicou a maior parte da carreira. Lecionou em faculdades de Jornalismo e Rádio e TV. Colunista de O Estado de S. Paulo e da Gazeta do Povo, desde 2004 é comentarista dos canais ESPN e da Rádio Bandeirantes de São Paulo.

Sobre o blog

Trazer comentários sobre futebol e informações, eventualmente em primeira mão, são os objetivos do blog. O jornalista pode "estar" comentarista, mas jamais deixará de ser repórter.