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Mauro Cezar Pereira

Conheça os rivais do Palmeiras na fase de grupos da Libertadores 2019

Mauro Cezar Pereira

05/03/2019 19h15

Rivais do Palmeiras no Grupo F: Junior de Barranquilla, San Lorenzo e Melgar

por Joza Novalis*

Junior Barranquilla

É uma equipe que hoje sobra na Colômbia, onde joga o melhor futebol disparado. Projeto é de crescimento e conquistas em curto e médio prazos. O elenco atual está bem de acordo com tal pretensão. Mas se o projeto do clube mostra ambição em várias frentes, o que também se converte em pressão para uma boa campanha na Libertadores 2019. O mínimo seria chegar às oitavas de final. Para o Junior, as disputas pelas vagas o Grupo F se resumem a três equipes lutando por apenas uma. Isto porque a outra uma das vagas tem de ficar em Barranquilla. É a mentalidade no clube e na cidade. A ideia não é lutar pela primeira posição, pois desta forma reduz-se consideravelmente a chance de eliminação.

Assim como na temporada anterior, a equipe de Baranquilla tenta imprimir uma postura agressiva em todas as partidas; protagonismo permeado pela ideia de sempre vencer seus rivais. Esta é a proposta, se ela se concretizará sempre é outra história. A forma de expressar esta postura é sempre chegar ao arco rival através do toque de bola, da pausa e aceleração que ocorrem de acordo com a apropriação dos espaços por parte de seus homens de meio e um ou outro lateral.  A bola em geral circula pelo chão, através de passes curtos ou de lançamentos do principal articulador, que é o volante Victor Cantillo.

O esquema principal é o 4-2-3-1, com um volante marcador e com um segundo de extrema criatividade, que é Cantillo. Na Libertadores anterior ele teve a melhor média de bolas roubadas, com 10,5 por partida. Esta marca é tão impressionante que foi incomparavelmente superior a de Leonardo Pico, bom primeiro volante e jogador a quem cabia a responsabilidade de dar o combate e tomar a bola do rival. Em outras palavras, é um segundo volante que marca como um camisa 5 e que arma sua equipe quase como um clássico número 10.  E tudo isso, diriam os mais antigos, sem "sujar o calção".

Vice-campeão da Copa Sul-americana, o Junior de Barranquilla caiu no grupo do Palmeiras pelo segundo ano seguido na Libertadores

A linha de três à frente dos volantes pode ser um termômetro do sucesso ou fracasso da equipe. Na temporada anterior, possuía muita mobilidade, mas atualmente registra múltiplas faces. São muitos jogadores que podem compor o setor, alguns deles com características bem opostas. Contra o Santa Fé, Luís Díaz Sambueza e Torres estiveram em campo. Mas esses nomes não foram os mesmos em nenhuma outra partida em 2019. Além disso, nota-se uma variação no esquema que por vezes apresenta formações como 4-1-4-1, 4-4-2, 3-4-3 e 3-5-2, além do já tradicional 4-2-3-1 da temporada anterior.

As novidades ocorrem por duas razões., a presença do técnico Luís Fernando Suárez e a chegada de alguns reforços. O treinador assumiu com a proposta de modificar o mínimo possível o que já estava funcionando bem no trabalho do seu antecessor, Julio Comesaña. Mas o novo comandante percebeu que precisava variar muito a equipe com o objetivo de se tornar menos previsível para os rivais e para marcar um maior número de gols. Para tanto, conta com reforços de peso, como o meia chileno Matías Fernández e o argentino Fabián Sambueza. Ambos são meias de organização e chegam com a obrigação de dividir com Cantillo a responsabilidade pela geração do jogo criativo. São jogadores com bom passe, leitura de jogo e chegada à área.

Assim como na temporada passada o Junior tem pecado muito nas soluções das jogadas. Isto quer dizer que a produção da equipe é muito relevante para a quantidade modesta de gols que ela tem feito. Nisto, o técnico Suárez, tem insistido que a equipe precisa simplifica o jogo em prol de melhores resultados. Desde que assumiu o comando do Tubarão de Barranquilla, Suárez detectou que sua equipe precisa ser mais flexível quanto ao entendimento do jogo que pratica. É preciso simplificar, modificar e, sobretudo, arrematar mais para o arco rival. Já se questiona a titularidade de Teo Gutiérez,  que já foi parar no banco em alguns jogos. Mas o resultado não foi dos melhores com a entrada de Luís Carlos Ruíz. A equipe colombiana tem ao menos dois bons jogadores para quase todas as posições, mas não dispõe de um suplente à altura para Cantillo e um reserva ou até um titular para a camisa nove.

Às vezes o jogo do Junior peca por excesso de lateralidade, que em geral ocorre em virtude do toque de bola improdutivo. Mas no caso específico o problema também acontece por parcimônia e dificuldades de entender os momentos certos de aceleração e desaceleração do jogo. Quando isto acontece, fica claro que os rivais do Verdão não dispõem de um líder em campo, que seja capaz de evitar que a modorra comande a musculatura, movimentos e ações de boa parte dos jogadores. Também é perceptível certa arrogância, que vem da forte convicção de que a superação do rival pode e deve acontecer a qualquer momento. Mas paradoxalmente esta postura em regra conduz para os problemas já citados acima: da parcimônia e do jogo improdutivo que não leva a nada. Só que este problema pode até aparecer em duelos contra o Melgar, mas dificilmente vai nos confrontos contra o Palmeiras, quando deve manter maior concentração, ciente de que não pode errar.

O déficit físico da equipe colombiana pode ser uma vantagem para os palmeirenses, porque fragiliza dois pontos da equipe. Seus novos reforços, como Sambueza e Fernández realmente mudam um jogo, mas eles não estão bem fisicamente. Outro que não está bem é Luís Díaz, o extremo canhoto que esteve nos planos do Flamengo. Até em virtude déficit físico a troca de bolas é lenta e ineficiente na saída do fundo, assim como a cobertura pelos lados, disputa homem a homem e até no jogo aéreo. Em todos esses pontos o Junior tem apresentado falhas em inúmeros momentos neste início de 2019. Para equilibrar as lacunas acima o rival do Palmeiras apresenta bons pontos fortes: Cantilho, jogo pelos lados do campo, com Luís Diáz, Hinastroza e outros. Além disso, a personalidade de jogadores que gostam de desafios, o que pode resultar em bons desempenhos nos grandes jogos.

San Lorenzo

Sob o comando de Jorge Almirón o San Lorenzo vive um momento de incertezas e baixo nível futebolístico, com 12 partidas sem vitória, sendo cinco derrotas e sete empates. Além disso, a produção de gols também é sintoma da crise que assola o conjunto de Boedo. Nessa dúzia de encontros, foram apenas sete gols marcados, enquanto a defesa sofreu 13. Há um claro problema de geração de jogo, que vai ao encontro do baixo nível técnico e claramente físico de alguns de seus jogadores. Porém, o número de tentos está abaixo até mesmo das chances criadas, mas que não resultaram no que seria necessário para afastar o momento ruim.

Independentemente do resultado contra o Melgar, o fato é que nos primeiros três jogos da fase de grupo o Ciclón não deve mostrar algo bem diferente do que apresenta atualmente. Contudo, vale duas lembranças aos palmeirenses. A primeira é que se todos os argentinos mostram déficit físico e de ritmo de jogo no início da Libertadores, o San Lorenzo costuma ser o pior de todos eles neste quesito. A segunda é que invariavelmente o Ciclón tende a melhorar ainda na fase de grupos e dificultar bem a vida de seus rivais. Foi assim contra o Flamengo, na Libertadores de 2018. Então, bom não se iludir muito com a (in)capacidade cuerva de dar a volta por cima e mostrar ao menos uma face mais competitiva ainda na fase de grupos.

Mas no momento, por mais que Almirón trabalhe, a equipe segue sem ideias dentro de campo; pouco ou nada acontece nas trocas de bola e numa posse que ao menos no momento se mostra improdutiva e até contraproducente. Em alguns momentos os jogadores passam a impressão de que ainda não absorveram as principais ideias do treinador, sobretudo de como quebrar a resistência defensiva de seus rivais.

O San Lorenzo encerrou mal 2018, embora tenha alcançado a vaga na Libertadores em meados do ano passado

Para lidar com o problema, o treinador segue modificando a equipe, o que leva à dificuldade natural de ganhar além de um padrão tático aceitável também o necessário entrosamento. Contra o Newell's Old Boys chegou a levar a campo um esquema 4-1-4-1, sendo que o único volante à frente da defesa, Raúl Loaiza, tem mais características de um segundo homem, criador, do que de um camisa 5 marcador. Mesmo assim, o Ciclón ficou no 1 a 1.

Apesar dos péssimos resultados, um San Lorenzo parecido com o Lanús de 2017, vice da Libertadores com Almirón, já dá sinais de vida. A recuperação da bola pós-perda já melhorou consideravelmente, o que se reflete no aprimoramento do sistema defensivo, que tem levado menos gols. No Granate o treinador tinha em Marcone seu volante que se infiltrava entre os zagueiros para fazer a saída limpa do fundo. Importado do Atlético Nacional, o jovem Raúl Loaiza tem feito este papel com certa competência e já se apresenta como o melhor jogador da equipe. Trata-se de um jogador inteligente, que com seu trabalho vem quase zerando os erros no setor e limitando o sucesso dos atacantes rivais na pressão alta sobe a saída de bola do Ciclón.

Contudo, do meio-campo para frente falta evolução. Isto ocorre pelo baixo nível de inúmeros atletas do setor, como Belluschi, Rubén Botta, Castellani entre outros. Falta o passe entre as linhas, passes médios, mais certeiros, e inversões capazes de acionar os ponteiros que se apresentam para as ações ofensivas. Na frente, Nico Blandi é outro que ainda "não retornou das férias em 2019". Outro problema é quanto ao apoio dos laterais. Para resolvê-lo, Almirón tem feito experiências e ao menos uma delas parece positiva. Trata-se de Damián Perez, que pouco a pouco vai se assenhorando da lateral-esquerda. Ele defende e apoia com eficiência e sabe se fazer de volante quando a equipe necessita. Para finalizar, o Ciclón tem se mostrado muito desatendo em alguns momentos, sobretudo nos minutos finais de suas partidas. Vários gols na temporada ocorreram nos instantes derradeiros e acréscimos.

Melgar

É o patinho feio do Grupo F, para a qual poucos dão a mínima atenção. Mas a equipe peruana não tem mais nada a perder nesta Libertadores, só a ganhar. Após superar Universidad de Chile e Caracas, o campeão peruano do Apertura 2018 pode se dar ao luxo de fazer suas apostas e ganhar muito mesmo com aquilo que para seus rivais do grupo seria pouco. Melhor cenário possível para um apostador é quando ele sabe que não tem absolutamente nada a perder. Este é o caso do Melgar. Porém, isto é também o que pode fazer desta equipe um rival perigoso.

Se há algo de muito positivo na equipe peruana é o apontamento de limitações e falhas quando ela vence. Se há um encantamento com os resultados positivos ele tem sido bem menor do que a visão crítica sobre o desempenho mesmo nas vitórias. Isto é assim porque o técnico argentino Jorge Pautasso sempre se mostrou como um técnico para quem o processo é mais importante do que o resultado final.

Dirigido pelo argentino Jorge Pautasso, o Melgar é o azarão do grupo e ficará feliz se for à Sul-americana, caso termina a chave na terceira colocação

Quanto ao futebolístico o Melgar apresenta dois esquemas principais. Em casa, o 4-2-3-1, com os dois volantes Árias e Romero municiando dois meias abertos, que forçam o jogo pelos lados e buscam o cruzamento para Cuesta e também para Sánchez, que se desgruda da linha de três e aparece como um segundo atacante, na fase ofensiva. Fora de casa o esquema é parecido, porém com Joel Sánchez atua praticamente colado ao meio-campo e mais preocupado em se juntar aos volantes do que de se fazer de atacante. No caso, o desenho fica próximo do 4-4-1-1 ou até 4-5-1.

Desnecessário pontuar que o Melgar é uma equipe mais preocupada com a defesa do que com o ataque. Não que Pautasso seja um retranqueiro, bem pelo contrário. Mas para ele é o material humano à sua disposição que define a forma como a equipe costuma jogar. Falta talento à sua equipe, falta jogadores protagonistas e melhores definidores. Sendo assim, priorizar a defesa se torna quase uma obrigação.

* o maior conhecedor de futebol latino-americano na imprensa brasileira
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Sobre o autor

Mauro Cezar Pereira nasceu em Niterói (RJ) e é jornalista desde 1983, com passagens por vários veículos, como as Rádios Tupi e Sistema Globo. Escreveu em diários como O Globo, O Dia, Jornal dos Sports, Jornal do Brasil e Valor Econômico; além de Placar e Forbes, entre outras revistas. Na internet, foi editor da TV Terra (portal Terra), Portal AJato e do site do programa Auto Esporte, da TV Globo. Trabalhou nas áreas de economia e automóveis, entre outras, mas foi ao segmento de esportes que dedicou a maior parte da carreira. Lecionou em faculdades de Jornalismo e Rádio e TV. Colunista de O Estado de S. Paulo e da Gazeta do Povo, desde 2004 é comentarista dos canais ESPN e da Rádio Bandeirantes de São Paulo.

Sobre o blog

Trazer comentários sobre futebol e informações, eventualmente em primeira mão, são os objetivos do blog. O jornalista pode "estar" comentarista, mas jamais deixará de ser repórter.