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Mauro Cezar Pereira

Árbitro que errou contra o Palmeiras está na "geladeira" há 17 rodadas

Mauro Cezar Pereira

11/11/2019 04h00

Igor Junio Benevenuto de Oliveira, de Minas Gerais, apitou quatro jogos e esteve na escala em 11 das 15 primeiras rodadas da Série A. Após sua quarta aparição na primeira divisão como árbitro principal, em Palmeiras 2 x 2 Bahia, não foi escalado na função nas 17 subsequentes. Em 2018 ele comandou 13 partidas na Série A. Se for escalado nas que restam, chegará no máximo a 10. Está na geladeira. "Ou na Antártica", como disse um ex-apitador ao blog.

O jogo disputado em 11 de agosto no Allianz Parque é lembrado por erro de arbitragem contra o time paulista na marcação do segundo pênalti, convertido por Gilberto. A decisão, com participação do VAR (sigla, em inglês, para Assistant Video Assistant Referee, ou árbitro assistente de vídeo)gerou reclamações em campo e até do ex-presidente Paulo Nobre, pela rede social. No dia seguinte, o atual mandatário, Maurício Galiotte, esteve na CBF, onde se queixou da arbitragem da véspera e tratou do tema VAR.

Reprodução Twitter

A arbitragem de vídeo interveio nas duas penalidades máximas dadas ao time baiano, com equívoco na segunda, em disputa entre o zagueiro Luan e o atacante Arthur Caíke. Clique aqui e veja o momento exato do lance que proporcionou ao time tricolor o pênalti e o gol de empate.

Depois disso, Igor Junio Benevenuto de Oliveira atuou na rodada seguinte, como árbitro de vídeo, no Maracanã em Fluminense 0 x 1 CSA. Na 18ª reapareceu no papel de assistente de VAR em Avaí 0 x 3 Flamengo. Comandou o vídeo na 19ª em Athletico 0 x 1 Avaí e novamente foi assistente de VAR na 22ª para Fortaleza 1 x O Botafogo. Ele foi árbitro de vídeo em Avaí 0 x 0 Vasco na rodada 24, função repetida na 25ª para Goiás 1 x 0 CSA.

Reprodução: CBF.com.br

Mais uma vez comandou o VAR em Fluminense 1 x 2 Athletico, na 26ª. Novamente liderou o vídeo na 28ª em Fluminense 1 x 1 Chapecoense, idem na 29ª em Vasco 1 x 3 Grêmio. A taxa de um árbitro como Benevenuto é de R$ 3,6 mil por partida. Quando atua no VAR, R$ 2 mil e se o escalam como assistente de vídeo, R$ 1,2 mil. Se colocado como apitador nas seis rodadas em que esteve ausente, receberia mais R$ 21,6 mil, fora as diárias. Ser afastado pesa no bolso e trava a evolução da carreira na arbitragem.

Ele voltou ao Allianz Parque na 30ª rodada, como árbitro de vídeo. O jogo: Palmeiras 1 x 0 Ceará. Foi Benevenuto quem sugeriu a Felipe Fernandes de Lima a anulação do gol marcado pelo time cearense no segundo tempo. O blog apurou que pela avaliação da CBF a decisão foi acertada, assim como o pênalti dado ao time alvinegro, que desperdiçou a cobrança. Depois, o mineiro atuou como assistente de VAR em Botafogo x Flamengo na 31ª e não foi escalado na 32ª, neste fim de semana.

Reprodução: CBF.com.br

Apenas para traçar um paralelo, Anderson Daronco não foi para a geladeira depois de CSA 3 x 1 Avaí, quando cometeu erro gravíssimo na marcação de uma penalidade máxima contra o time catarinense. Curiosamente o vídeo dos gols daquela partida publicado no site da CBF não contém o polêmico lance – clique aqui e veja o exato momento no qual foi realizada a consulta ao monitor à beira do campo e assinalada a infração. Depois daquela partida ele apitou mais três jogos da primeira divisão do Brasileiro: Palmeiras 1 X 0 Botafogo, Flamengo 2 X 0 Fluminense, quando, por sinal, não deu pênalti claro em Gabigol; e Chapecoense 0 X 3 São Paulo.

O blog entrou em contato com a CBF e perguntou: Igor Junio Benevenuto de Oliveira apitou Palmeiras 2 x 2 Bahia na 15ª rodada, jogo que teve queixas palmeirenses contra a arbitragem. Depois disso a escala dele foi: oito vezes árbitro de vídeo, três como assistente de VAR, seis rodadas ausente e nenhuma como árbitro de campo. Por que ele não apitou mais? O que explica um árbitro atuar com o apito em quatro jogos nas 15 primeiras rodadas e depois de uma atuação polêmica não apitar mais nas 17 subsequentes?

 

O lance no qual Daronco marcou um pênalti contra o Avaí, na derrota para o CSA – Reprodução TV

E ainda: por que Anderson Daronco, que clamorosamente errrou em CSA x Avaí, depois disso já apitou três jogos, enquanto Benevenuto não mais apitou? Quais outros árbitros estão fora da escala como apitadores, árbitros de campo, como Benevenuto? Por que? Resposta:"A Comissão de Arbitragem não comenta critérios de escala de nenhuma competição".

O afastamento de Igor Junio Benevenuto de Oliveira da função de árbitro principal por tanto tempo é, obviamente, notado pela comunidade da arbitragem. A questão é: sabendo que ele não mais foi escalado após o erro contra o campeão brasileiro, como sentem-se os demais escalados nos jogos do time? Por que a CBF não explica seu afastamento?

Mais: se Benevenuto ainda não saiu da geladeira, por que escalá-lo como árbitro de vídeo justamente no Allianz Parque, onde cometeu aquele erro contra o time palmeirense? Estaria ele tranquilo ou temendo cometer novo deslize em decisão contrária ao time da casa? Não seria mais adequado, já que ele nem vem sendo escalado na função principal, evitar que atue em jogos do time que sentiu-se prejudicado em sua última aparição com o apito nas mãos? Será que ele estava pressionado?

O lance do gol anulado do Ceará no Allianz Parque tendo Benevenuto como árbitro de vídeo – Reprodução TV

Quando, sem explicações por parte de quem os escala, um árbitro não mais aparece na função principal, como ficam os que são selecionados para atuar em jogos do time que o colega escanteado teria prejudicado? Qual o reflexo disso, ainda mais ante o silêncio da CBF?

"Conheci um árbitro que era um dos melhores e dizia que se você errar contra o time pequeno, terá poucos problemas, mas contra um grande, a chance de ser punido é enorme. Não podemos dizer que todos os árbitros pensam assim, mas claro que entram em campo com medo de errar. Essa questão de o árbitro errar contra um time e ser punido entra no inconsciente dos demais. Automaticamente eles vão pensar: 'não posso fazer a mesma coisa'. Não podemos generalizar, mas esse árbitro entra em campo muito pressionado. 'Não posso errar, não posso errar' e aí entra no inconsciente, 'se eu errar serei punido', 'se errar serei punido'. Aquilo fica se repetindo", resume a comentarista de arbitragem da ESPN, Renata Ruel.

 

A disputa de bola entre Luan e Athur Caike que gerou o pênalti contra o Palmeiras – Reprodução

"Quando um árbitro é afastado por ter cometido erro contra determinado time, os que são escalados para apitar os jogos seguintes desse equipe sentem a pressão de não poderem errar contra aquele clube", costumava dizer em suas participações ESPN o ex-árbitro Salvio Spinola Fagundes Filho, hoje no Grupo Globo. "A pressão não é no jogo seguinte, é no campeonato. Se o árbitro é punido por errar contra uma equipe, todos veem que aquela equipe é forte nos bastidores. Se erra contra determinada equipe e volta para a escala, o árbitro vê que esta equipe não pressionou para punir", explicou Salvio, inúmeras vezes, em seus comentários. "A escala fala e o árbitro escutar", ensina.

Com enorme naturalidade, cartolas protestam contra a arbitragem e dizem publicamente que irão à CBF reclamar, o que pode ser entendido como cobrança antecipada sobre os próximos apitadores. Afinal, pressão de bastidor sobre a escala funciona? "Sabemos que a cobrança será maior daquela equipe, mas temos nossas estratégias e técnicas mentais para enfrentar a situação", minimizou, em resposta ao blog, o árbitro Ricardo Marques Ribeiro, com 12 participações nesta Série A como árbitro de campo na temporada. Também de Minas Gerais, ele vive seus últimos jogos como integrante do quadro da Fifa, que deixará ao final de 2019.

Apesar de suas palavras, são óbvios e visíveis os efeitos de pressões, de diferentes tipos. Como as por ele sofridas em Internacional 2 x  2 Santos, no ano passado, jogo no qual anulou um gol colorado. Na ocasião, elas levaram a reações como a do vídeo abaixo. A discussão aconteceu após ser questionado, a caminho do vestiário do Beira-Rio, pelo diretor executivo Rodrigo Caetano. Ele ainda foi cobrado no aeroporto, e reagiu.

 

Renata Ruel frisa a importância da postura de quem chefia os apitadores quando pressionados. "Depende muito do comando da comissão da arbitragem, ele pode ser o que tira o árbitro de escala ou põe em jogos menores quando o dirigente de clube reclama, ou o que defende seus árbitros, e aí não adianta reclamar, embora seja lógico que fará as análises das atuações. Veja o caso de Thiago Duarte Peixoto, que aplicou cartão errado naquele Corinthians x Palmeiras em 2017, foi afastado, voltou depois a apitar Série A, mas nunca mais esteve em jogo do Corinthians e dificilmente o veremos em partidas do clube", acrescenta.

Toda vez que ocorrem erros de arbitragem contra os adversários de um determinado time, não são poucos os torcedores que citam "armação", "complô", etc. É leviano afirmar isso sem provas, obviamente. Tampouco é necessário que esse tipo de situação se configure para que árbitros fiquem sob pressão e sejam induzidos ao erro pelo medo de um castigo.

Seguidas falhas que beneficiam um clube podem ser mera coincidência, ou sinalizar apitadores pressionados, temendo serem afastados, como eventualmente ocorre com um de seus colegas após erro específico contra determinado time. Como os ex-árbitros acima citados deixam claro, trata-se de uma espécie de temor natural, reação humana, nada mais.

Na geladeira
Benevento na Série A depois de Palmeiras x Bahia:
Árbitro de campo: 0
Árbitro de vídeo: 8
Assistente de VAR: 3
Rodadas ausente: 6

 

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Sobre o autor

Mauro Cezar Pereira nasceu em Niterói (RJ) e é jornalista desde 1983, com passagens por vários veículos, como as Rádios Tupi e Sistema Globo. Escreveu em diários como O Globo, O Dia, Jornal dos Sports, Jornal do Brasil e Valor Econômico; além de Placar e Forbes, entre outras revistas. Na internet, foi editor da TV Terra (portal Terra), Portal AJato e do site do programa Auto Esporte, da TV Globo. Trabalhou nas áreas de economia e automóveis, entre outras, mas foi ao segmento de esportes que dedicou a maior parte da carreira. Lecionou em faculdades de Jornalismo e Rádio e TV. Colunista de O Estado de S. Paulo e da Gazeta do Povo, desde 2004 é comentarista dos canais ESPN e da Rádio Bandeirantes de São Paulo.

Sobre o blog

Trazer comentários sobre futebol e informações, eventualmente em primeira mão, são os objetivos do blog. O jornalista pode "estar" comentarista, mas jamais deixará de ser repórter.