Demitido, Felipão não é o vilão: futebol mal jogado tem vários responsáveis
Qual a maior lição deixada pelos 7 a 1 impostos pela Alemanha à seleção brasileira em 2014? Escancarar a defasagem do futebol praticado no país. Surra dada em time com jogadores que atuavam na Europa, mas levado a campo com proposta de jogo caseira. Ela retratava o cenário que já imperava por aqui, de uma defasagem técnico-tática gigantesca, que evidenciava: Luiz Felipe Scolari ficara para trás. De forma menos traumática, a história se repete com os resultados, eliminações e a acachapante derrota pelo Flamengo, fatores cuja soma resultou na demissão do treinador.
Isso não significa que o cartel de vitórias do treinador campeão do mundo em 2002 deve ser atirado na primeira lata de lixo. Não! Apenas ficou claro que ele, como Carlos Alberto Perreira, coordenador em 2014, como tantos outros profissionais da área, foram superados em seus conceitos, ideias, estrategias. Todas mais do que superadas. E os germânicos fizeram ao Brasil o favor de mostrar isso de forma inequívoca, no entanto, nem todos quiseram aceitar o fato, o que motivou a continuidade de uma medíocre mesmice.
Desde a década passada muitos times brasileiros foram bem sucedidos em competições domésticas atuando de maneira cautelosa, com defesas muito protegidas, forte jogo aéreo e a aposta principal: explorar o erro do adversário. Assim, pouco a pouco, a posse de bola, a bela convivência de jogadores hábeis e/ou técnicos com a pelota tornou-se mais rara. Cresceu o jogo brigado, rareou o jogo jogado. E nessa mediocridade, o feio ficou bonito.
Sim, quando times que jogavam para não perder conseguiram, assim, vencer, esse aparente atalho para a glória seduziu a muitos. Então surgiu a paupérrima máxima "prefiro vencer jogando mal do que perder jogando bem", como se atuar mal aproximasse da vitória, quando ocorre exatamente o inverso. Mas em meio a tantas equipes entrando em campo para fazer isso, naturalmente uma delas teria que sair vencedora.
Paralelamente, a Europa mudou seu foco. Lá desenvolveram a técnica, aprimoraram a tática. E cresceram na habilidade, turbinada pela miscigenação futebolística, que mesclou diferentes raças em inúmeros times e seleções, favorecendo o surgimento de atletas capazes de executar missões até então complexas para europeus. Eles avançaram, enquanto no Brasil houve estagnação. Incrível que nem mesmo o 7 a 1 tenha convencido quem ainda não consegue ver isso.
Quando o Palmeiras, campeão brasileiro, com elenco dos mais caros e qualificados do Brasil, vai ao Rio de Janeiro e perde para o Flamengo do português Jorge Jesus como perdeu, fica ainda mais clara a defasagem. Sim, porque o derrotado é o atual campeão nacional, ainda treinado por quem há poucos meses era exaltado como o técnico renascido, quando na realidade o estilo de jogo por ele proposto já não é aplicado em qualquer liga mais avançada.
Luiz Felipe Scolari não é o vilão, mas somente um personagem em meio ao declínio da bola que rola (ou voa?) por aqui. Há mais técnicos que ficaram para trás, inclusive os que rejeitam o conhecimento que vem de fora, sem falar nos que repelem estrangeiros e minimizam suas virtudes. A eles soma-se a torcida que deseja a vitória a qualquer custo sem um segundo de reflexão e a ala resultadista da imprensa. Sim, também temos que nos reciclar.
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