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Mauro Cezar Pereira

Conheça o Peñarol e os rivais do Flamengo na fase de grupos da Libertadores

Mauro Cezar Pereira

03/04/2019 13h33

Rivais do Flamengo no Grupo D – LDU, San José e Peñarol

O grupo do Flamengo em tese não é dos mais complicados. Uma das equipes é tida como de pequeno porte na Bolívia; a LDU tem história na Libertadores, mas há muito que não consegue uma boa campanha; por fim o Peñarol, um gigante sul-americano, mas que em muitos aspectos vive à sombra de suas conquistas do passado. Tudo isto, porém, na teoria, pois dentro de campo sabemos que a história muitas vezes é outra.

Peñarol

O Peñarol pode assustar o Flamengo? Possível que sim, mas assim como ao Rubro-Negro também aos demais clubes do Grupo A o Aurinegro de Montevidéu não assusta nem um pouco. E por que isto acontece? Tanto o Peñarol quanto o Nacional vivem profunda crise de identidade futebolística. Para os dois gigantes não é fácil se dimensionarem em terra de nanicos. Além disso, numa era de grande investimentos e custos esses dois clubes não precisam de grandes gastos para se mostrarem superiores aos demais rivais do futebol local. Por outro lado, se grandes investimentos forem feitos, a possibilidade de prejuízos é gigantesca. Gestão eficiente pode ser a solução para muitos clubes mergulhados em crises longas e profundas. Mas no caso dos gigantes uruguaios a solução parece distante em curto ou médio prazos.

O poder da camisa, a garra uruguaia e o apelo à identidade vencedora, contudo, muitas vezes entram em campo e dificultam para qualquer adversário sul-americano. E o que pode ser complicado para o Flamengo é que o atual treinador carbonero, Diego López, parece ser um perito em apresentar esses aspectos para seu grupo de jogadores. Para López, se o Peñarol é um grande clube, ele tem a obrigação de buscar a vitória em todos os jogos e diante de quaisquer rivais.

López não negocia intensidade, voracidade ofensiva e entrega durante os 90 minutos de uma partida. A marcação precisa ser consistente e o ataque ao portador da bola intenso e implacável. Mas ser um entusiasta do jogo ofensivo e levar seus jogadores a comprarem a ideia não significa descuidar da marcação. E o que sua primeira linha defensiva precisa fazer para ser sólida? Não somente fazer sua parte, mas contar com o profundo comprometimento de atacantes e meias com o sistema. E a forma de concretizar este objetivo é instaurar a busca incessante da pelota, após perdê-la.

Para se ter uma ideia dos números do atual Peñarol, no último semestre a equipe disputou 35 partidas pelo Clausura. Foram 25 vitórias, seis empates e quatro derrotas. No total foram 75 gols feitos, contra 31 sofridos, num incrível saldo positivo de 44 gols. Não há um esquema preferido pelo técnico Diego López, mais invariavelmente há muitos jogadores povoando o meio-campo e se lançando ao ataque. Por vezes, flagra-se um 4-2-4, 4-5-1, 4-1-5, 4-2-1-3 etc. O veterano Cebolla Rodríguez é o principal articulador da equipe e divide com Guzmán Pereira a sua liderança dentro da cancha.

São muitos veteranos em campo, mas isto é uma opção do técnico e não por ausência de jovens com mais talento, disponíveis no elenco. Dentre estes, vale destaque para Gabriel Rodríguez e principalmente para Augustín Canobbio, a quem cabe puxar os contragolpes em velocidade pelo lado esquerdo.

Quem vai fazer do Peñarol um rival perigoso é o próprio Flamengo. Na prática, a equipe uruguaia é um "bando" de cobras criadas, pronto para intimidar qualquer um que se dispuser a enfrentá-lo com medo. Se há algo que o Peñarol jamais perdeu, em tempos de crise, foi a coragem. Mesmo em baixa já há um bom tempo muitas vezes o Aurinegro consegue se impor a rivais mais poderosos, como os brasileiros, justamente porque sempre mantém sua coragem intacta frente a poderosos acovardados. Fica a dica para a comissão técnica rubro-negra, pois o Peñarol pode sim, junto com a LDU, transformar a participação flamenguista, na Libertadores, em pesadelo e fracasso a serem administrados por toda a temporada de 2019.

LDU de Quito

A LDU pode ser um rival bem mais complicado para o Flamengo do que parece, à primeira vista. A forma de jogar, os tipos de jogadores e os bons números dentro de casa lembram o vice-campeão da Libertadores de 2016, o Independiente del Valle. E não é por acaso que a Liga de Quito tem no seu banco de reserva o uruguaio Pablo Repetto, que também foi o técnico daquele Del Valle.

Entrosamento, equilíbrio entre linhas e atitude são marcas desta LDU, que foram solidamente construídas por Pablo Repetto. Quando o uruguaio chegou a Quito, a LDU estava à beira do rebaixamento no Equatoriano. Ao final do Clausura seguinte, terminou em terceiro lugar. Pode parecer pouco, mas não é, considerando o equilíbrio que marca o momento dos clubes no Equador. Clubes pequenos e médios vêm crescendo constantemente em um movimento sem volta, produto de forte investimento nas estruturas dos clubes e na base, além do avanço na mentalidade dos dirigentes.

Assim que chegou, no segundo semestre de 2017, Repetto entendeu que a LDU carecia de um esquema de jogo. E ele estava correto. A equipe era um amontoado de jogadores e só não estava pior pela presença de Hernán Barcos, que era um dos melhores da equipe, embora chegasse pouco às redes. Mas aos poucos a equipe foi se construindo tendo como alicerce um forte equilíbrio entre linhas, uma sólida defesa e preferencialmente um esquema com uma linha de três bem dinâmica, de forte marcação, velocidade e geração de jogo. Esta ainda é a principal característica da LDU.

A agressividade em momentos-chave tanto para marcar quanto para se defender é uma marca. Ideia é a de assumir o protagonismo do jogo, ainda que nem sempre via posse de bola. A equipe de Repetto tende a se adaptar aos seus rivais e muitas vezes cede a bola para o rival em prol de um protagonismo mental dentro da cancha. Independente dos jogadores que vão a campo o 4-2-3-1 ou o 4-3-3 costumam aparecer e com mais frequência. Já quando precisa se defender, apenas o centroavante permanece avançado.

O jogo pelos lados do campo costuma prevalecer tanto quando a equipe parte em contragolpe quanto em momentos de geração de jogo a partir da meia cancha, quando a equipe precisa atacar os seus rivais. Invariavelmente esses jogadores de lado são velozes e todos eles buscam aprofundar o campo de forma a conseguir o cruzamento para Anangonó.

A LDU não tem sido uma equipe de muitos gols, mas isto vem se modificado nos últimos jogos. Em parte por causa da intensificação de treinamentos para melhorar a pontaria e também para variar a forma como a redonda chega para os principais anotadores. Em parte, pela qualidade dos garotos que foram promovidos da cantera e ganharam moral com Pablo Repetto. Dentre eles, estão Anderson Julio, Adolfo Muñoz, Jhojan Julio, além de Andrés Chicaiza, que chegou para reforçar e melhorar a geração de jogo a partir do meio-campo.

A cada dia essa garotada se entende melhor dentro de campo e o jogo da Liga vai se tornando leve, eficaz e incisivo. Isto quer dizer que o Flamengo vai precisar de boa marcação para evitar o jogo profundo, veloz e eficiente que ocorre pelos lados do campo. E se isto já pode ser um problema quando a Liga tem a bola, pior ainda é quando ela é acionada em velocidade nas jogadas de contra-ataque.

A LDU pode se tornar uma das equipes mais interessantes da América do Sul, em pouco tempo. Mas até em virtude de muitos de seus jogadores serem jovens, os resultados podem decepcionar, caso derrotas apareçam no início da Libertadores. Para o Flamengo isto pode ser bom ou ruim, já que o Rubro-Negro vai encarar os equatorianos na terceira e quarta rodadas do Grupo D.

O que há de muito eficaz é o sistema defensivo, com boa retração das linhas para proteger o entorno da grande área, assim com a solidez defensiva da primeira linha. Sua composição é de defensores rápidos, mas que não são necessariamente eficientes no um contra e muitas vezes no jogo aéreo, embora nisto uma evolução se nota nos últimos encontros.

Pelo chão, a troca de passes precisa ser rápida e certeira, pois os defensores, como já dissemos, são bons. Porém, eles não estão acostumados com atacantes do nível que o Flamengo possui no seu elenco. Vale a briga no um a um, vale o drible quebra-linha e vale o um-dois rápido como armas para chegar à frente do goleiro e tentar guardar a redonda nas redes. Vale também um volante que se infiltre como elemento-surpresa, mas não estamos falando de Arão, que só na cabeça do Abel tem atuado como segundo volante. Se o Flamengo não tem este tipo de jogador, poderá precisar dele nos confrontos contra a Liga e poderia buscá-lo no mercado ou adaptar um meia do elenco para cumprir este papel.

Na perspectiva de defender um resultado temos a melhor versão dessa Liga de Quito, seus jogadores costumam manter uma calma e um controle dos nervos tanto na troca de bola de um lado a outro quanto na retração de suas linhas em situação de pressão. Mas o efeito tende a ser o oposto, quando a equipe leva o primeiro gol. Quando isto acontece a equipe mostra déficit de equilíbrio mental para lidar com a desvantagem e com a obrigação de restaurar ao menos o resultado anterior.

Vale notar que também este problema já recebe uma melhor atenção de sua comissão técnica, que já o reduziu, embora ele ainda seja perceptível. Isto quer dizer que no confronto contra a Liga o melhor a fazer é buscar a vantagem no marcador, pois isto atenta contra aquilo que a equipe "universitária" preza como seu maior objetivo: controlar mentalmente uma partida para liderar com seus principais acontecimentos.

Vantagem de sair na frente também está no fato de que o rival da LDU ganha um campo interessante para jogar, pois os equatorianos tendem a adiantar suas linhas e praticar o jogo quase somente no campo de seus adversários. Esses podem ser momentos de perigo para o Flamengo, mas também de oportunidade para fazer seu jogo acontecer diante de rivais mais desatentos na marcação e com linhas menos ajustadas.

Na campanha do título do Apertura de 2018 a Liga mostrou os seguintes números. Dos 11 jogos em casa, foram oito vitórias, dois empates e uma derrota. Fora de casa, dos 11 jogos, foram seis vitórias, dois empates e três derrotas. Como visitante a LDU foi o segundo melhor da competição, ficando atrás do Barcelona.

Isto quer dizer que o caneco do Equatoriano só aconteceu em virtude dos excelentes números como mandante. Ou seja, de uma forma ou de outra, a LDU deve jogar para vencer no Casablanca, pois sabe que o fator-casa poderá ser decisivo para a sua classificação. Claro, toda equipe também levaria isto em conta. Mas nem todas costumam ser tão eficiente em seus domínios quanto ao rival do Flamengo na terceira e quarta rodadas do Grupo D.

Clique para ler o post com a análise do San José de Oruro.

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Sobre o autor

Mauro Cezar Pereira nasceu em Niterói (RJ) e é jornalista desde 1983, com passagens por vários veículos, como as Rádios Tupi e Sistema Globo. Escreveu em diários como O Globo, O Dia, Jornal dos Sports, Jornal do Brasil e Valor Econômico; além de Placar e Forbes, entre outras revistas. Na internet, foi editor da TV Terra (portal Terra), Portal AJato e do site do programa Auto Esporte, da TV Globo. Trabalhou nas áreas de economia e automóveis, entre outras, mas foi ao segmento de esportes que dedicou a maior parte da carreira. Lecionou em faculdades de Jornalismo e Rádio e TV. Colunista de O Estado de S. Paulo e da Gazeta do Povo, desde 2004 é comentarista dos canais ESPN e da Rádio Bandeirantes de São Paulo.

Sobre o blog

Trazer comentários sobre futebol e informações, eventualmente em primeira mão, são os objetivos do blog. O jornalista pode "estar" comentarista, mas jamais deixará de ser repórter.