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Mauro Cezar Pereira

Conheça os rivais do Athletico-PR na fase de grupos da Libertadores 2019

Mauro Cezar Pereira

14/03/2019 12h23

por Joza Novalis*

Rivais do Athletico Paranaense: Boca Juniors, Tolima e Jorge Wilstermann

Boca Juniors

Tem sido comum aos grandes clubes argentinos entrar na Libertadores com certo déficit no ritmo de jogo. O atual Boca Juniors, rival do Furacão no Grupo G, tem inúmeros problemas, exceto este. E correr atrás do caneco da Superliga diz muito sobre isto. A cada rodada o Boca melhora, suas peças vão se encaixando e a equipe vai ganhando calibre em todas as suas linhas. Daí a concluir que o gigante argentino já seja uma equipe pronta, é outra história.

Assim como o River, no Grupo A, o Boca está no Grupo G para ficar com uma das vagas e as demais equipes que lutem pela outra. Provável até que finalize a sequência de jogos como o líder do grupo. E isto não é menosprezo ao Athletico, mas uma constatação que vem da história dos xeneizes na Libertadores e do grau de investimento para a competição. Só como ideia, o elenco do Boca tem mais que o dobro do valor dos elencos de seus três rivais no Grupo G.

Então, por que estamos falando do Boca e não do Tolima ou Wilstermann? Porque o Furacão jamais deve deixar de lado a possibilidade de ser o líder do grupo. Se conseguir, provável que se depare com um rival teoricamente mais fácil nas oitavas, caso se classifique; se não conseguir, elevará seu padrão competitivo em virtude da qualidade do embate com o principal favorito do grupo.

Mas como dissemos acima, o Boca não é uma equipe pronta. Vejamos o porquê. A primeira linha é de alto nível, os dois volantes à sua frente, têm um nível ainda maior. Outro ponto em destaque é solidez de Andrada, defensor do arco xeneize. Problemas acontecem a partir do meio-campo. 4-2-3-1, 4-3-3, 4-4-2, 4-3-1-2 e por aí vai. Em tese, interessante um técnico poder dispor de vários esquemas e poder utilizar um ou outro conforme o adversário.

Gustavo Alfaro fazia um ótimo trabalho na Huracán, mas deixou o clube ao topar o desafio de comandar o Boca JuniorsContudo, isto requer muito trabalho para calibrar a equipe em cada um desses desenhos. E embora o Boca tenha mostrado reação nos últimos jogos, as peças não tem funcionado bem do meio-campo para frente. Alfaro não tem a personalidade de Schelotto e para não ter problemas vem se esforçando para achar um lugar para Tévez na formação titular.  O Apache é um dos ídolos do clube, mas sua forma física e técnica nem de perto lembra o jogador protagonista dos tempos de Carlos Bianchi.

Como enganche falta leitura de jogo e sobretudo o raciocínio rápido para achar a melhor opção de passe; como segundo atacante, vez ou outra bate cabeça com Benedetto ou Ábila. Tévez tem dificuldades para delimitar seu espaço, dentre outras coisas por que quando a equipe atua com dois homens no ataque em geral recebe o apoio de um meia ou de um lateral pelos lados do campo. Como extremo, pior ainda pois sua condição de imprimir velocidade à jogada está limitada ao espaço do campo em que ele recebe a redonda para partir rumo ao fundo do campo.

E se não bastasse tudo isso, tem mais: a concorrência. Para manter Tévez como enganche Alfaro se vê obrigado a deslocar Bebelo Reynoso para o lado do campo, mesmo sendo lento e frágil fisicamente, ou para o banco de reservas. Mas seria absurdo imaginarmos que a culpa toda é do ídolo xeineze. Alfaro não consegue criar uma relação confiável com nenhum jogador do meio-campo para frente. Então, os atletas não sabem o que estão disputando.

Quem está no banco de reservas vive de incertezas. Não tem convicção de que poderá ser titular e tampouco de que entrará em campo, até porque o que se aplica a ele, com raras exceções, se aplica aos outros. E o que produz e alimenta a incerteza? A falta de critério técnico de Alfaro para eleger seus titulares. Talvez porque não tenha tamanho para ser o comandante do transatlântico ou no mínimo porque se intimidou ao perceber que o seu perfil gera estranheza no clube e, pior ainda, por entender que esta suspeita é mera constatação.

Na recente vitória do Boca sobre o Defensa y Justicia, a equipe de Alfaro finalizou apenas 4 vezes, contra 23 do rival; teve só um arremate certeiro, contra oito da equipe de Sebastian Beccacece. O Defensa teve 65% de posse de bola e trocou 553, contra 306 do Boca Juniors; desses passes o vice-líder da Superliga teve 86% de acertos na troca de passes, contra 70% do Boca. Chega a ser espantoso.

E o pior é ver como a mentalidade do técnico atuou nos acontecimentos anteriores à partida contra o Defensa. Na rodada anterior, o Boca perdera na Bombonera por 2×1 para o Tucumán. Na ocasião, a equipe entrara em campo com dois volantes e uma trinca de meias mais à frente. Em virtude da derrota, Alfaro mudou o esquema contra os Falcões de Varela, levando a campo uma trinca de volantes, que mesmo composta por jogadores hábeis teve como a única função a de marcar o rival.

Isto não tem nada a ver com o Boca, com o caráter dos jogadores que o clube contratou e com o apreço de seus torcedores pelo jogo eficiente, mas pautado também numa beleza possível. Por um lado, recorda Falcioni e Arruabarrena, que priorizavam a defesa acima de tudo e que eram odiados pela torcida por causa disso. Por outro, vale lembrar que o único técnico que obteve sucesso com ideias semelhantes foi Carlos Bianchi; ninguém mais.

Contudo, o elenco do Boca é tão grandioso que a equipe é bem capaz de superar os vacilos de seu treinador, fazer estragos em todos os seus rivais e até conseguir títulos. E para tanto, vale olharmos para alguns de seus jogadores. A primeira linha é composta por Buffarine, Izquierdoz, Lisando López e Más. Há inúmeras alternativas para as laterais, mas os dois zagueiros são os donos legítimos do setor. Independente de dois sou três volantes, Campuzano e Marcone devem atuar sempre que possível.

Trata-se de dois volantes dentre os melhores da América Latina; são combativos, mas habilidosos e cerebrais. São capazes de mudar o destino de uma partida, Marcone com um passe, e Campuzano com sua chegada à área, seus arremates e seus gols. Problema é que o melhor que ambos têm a oferecer tende a ser bloqueado pela filosofia de jogo de Alfaro. Ainda assim, contra ela e em nome da camisa do Boca, o melhor de Marcone e Campuzano pode aparecer em circunstâncias extremamente adversas de alguma partida decisiva.

Há um outro problema no Boca que é a presença inquestionável de Pavón dentre os titulares na maioria dos jogos. Embora já irrite aos hinchas xeneizes, Pavón é uma espécie de garotinho adorado do presidente do clube. De novo, elenco é bom e por isso capaz de superar um jogador de fraco desempenho ou até contraproducente. Porém, em grandes jogos o "luxo" de manter Pavón entre os titulares pode custar caro.

O Boca pode e provavelmente será o líder do Grupo G. Mas se não ajustar ou corrigir seus problemas pode ter uma participação muito aquém de sua grandeza, nesta Libertadores. Porém, se há uma equipe capaz de destruir todos os prognósticos desfavoráveis é o Boca Juniors. Isto porque nos dias atuais camisa nem sempre ganha jogo. Mas a do Boca continua entortando varal e varrendo o chão.

Jorge Wilstermann

Prova de que o futebol boliviano não vive só de altitude está na evolução de várias equipes de altitudes menores ou de Santa Cruz de La Sierra. O Wilstermann joga em Cochabamba, que fica a pouco mais de 2500 metros de altitude. Por certo que esta altitude incomoda, mas boa parte das equipes sul-americanas já aprendeu a lidar com situações bem piores. O time boliviano costuma atuar para vencer suas partidas dentro de casa. Tenta pressionar seus visitantes o tempo inteiro na busca do gol e conta com muita intensidade e entrega de seus jogadorera para conseguir o resultado.

Já fora de casa, o Aviador tende a esperar um pouco mais em seu campo de defesa e atuar com linhas mais compactas no primeiro campo. Ao menos era assim na temporada anterior. Contudo, no final do ano de 2018, o técnico Miguel Ángel Portugal chegou a Cochabamba para treinar o Jorge Wilstermann. Portugal é conhecido por ser um partidário do jogo ofensivo; alguns diriam até, "ultraofensivo". Mas se não pecar pela falta de lucidez, Potugal vai valorizar a forma como o Aviador de Barraquilla atuava fora de seus domínios, quando encarava seus rivais na Libertadores.

A defesa do Wilstermann apresenta dois zagueiros muito seguros no jogo aéreo, mas um tanto lentos pelo chão. Um deles é o capitão, Zenteno, que é uma espécie de ídolo local pela entrega e identificação ao clube. O outro é o brasileiro Aléx Silva, o "Pirulito", que quando caminhava para encerrar sua carreira, chegou à Bolívia, se adaptou bem e por vezes sai de alguns jogos como o melhor em campo.

O conjunto da equipe é o principal ponto positivo dos bolivianos, já que os atletas do futebol local não sofrem assédio significativo do exterior. O grupo do Furacão é muito difícil até por ter o Jorge Wilstermann. Isto porque os bolivianos não são fáceis de serem derrotados em casa e mesmo se não fizerem boa campanha na Libertadores poderão ser importantes à definição das duas equipes que passarão à fase de mata-mata.

O Jorge Wilstermann disputará a Copa Libertadores 2019 sob o comando de Miguel Ángel Portugal

Tolima 

Desde há uma década o Deportes Tolima vem crescendo no cenário futebolístico colombiano. Os investimentos não são o principal motivo deste crescimento, mas a gestão dos recursos e a mentalidade moderna de seus dirigentes. O cresimento é consistente e aparentemente um processo sem volta. Não há dívidas, insatisfação de jogadores etc. A promoção de jovens da cantera ainda é tímida, mas também correta. Porém os principais jogadores chegam ao clube de Ibagué provenientes de equipes menores e principalmente dos inúmeros clubes amadores que se espalham pelo país.

Para muitos o Tolima passa longe da possibilidade de ficar com uma das vagas do Grupo G. Mas isto está longe de ser uma verdade. A equipe colombiana pode ser uma pedreira para o Furacão também na partida de volta, na Arena da Baixada. Contra Athlético, Boca Juniors e Wilstermann o Tolima vai jogar para vencer dentro e fora de casa.

A troca de passes é interessante, a posse e valorização da bola têm sido sustentadas pelos bons jogadores que atuam no meio-campo. O jogo tende a ocorrer no terreno do rival, com pressão sobre a saída de bola do fundo, inversões e passes curtos no entorno da área. Esta forma de jogar tem se mostrado tão sólida que supera a perda de jogadores decisivos ao final de cada competição.

A marcação é forte, de muita entrega e de boa cobertura pelos lados do campo. O esquema principal é o 4-3-3, com jogadores procurando e especulando a todo o tempo sobre possibilidades de achar o passe para colocar algum jogador na cara do gol. Dos três atacantes, dois deles costumam cair pelos lados, puxar a marcação para abrir espaços para a infiltração de algum volante ou para cruzar a bola para o seu camisa 9. Boa parte do sucesso do Tolima, no campo de ataque, se dá pela velocidade de jogadores como Albonoz, González e Jaminton Campaz. Porém, é importante não deixar espaços para Marco Pérez, o centroavante oportunista e goleador da equipe de Ibagué.

A melhor forma de enfrentar o Tolima é encará-lo de frente, sem medo e tentando prendê-lo no seu campo de defesa. Outra maneira de fazer estragos na equipe colombiana é acertar o contragolpe. O Tolima costuma adiantar suas linhas e deixa espaços e campo para o contra-ataque. Mas para que esta jogada resulte em gols, precisão e rapidez são essenciais, pois tanto os jogadores de meio-campo, volantes quanto defensores são rápidos e exaustivamente treinados para frustrar as tentativas e os contragolpes de seus rivais.

Emboa seja uma equipe que gosta da bola, nota-se no Tolima uma mudança de postura, quando consegue ficar à frente no marcador. Nessas situações, cede e perde a posse de bola para equipes que também sabem tratá-la bem. Para os desafiantes do Tolima, este é o momento de intimidar, pressionar e prender os colombianos no seu campo de defesa. Mas fica a dica: cuidado com o contragolpe colombiano se faz mais que necessário.

O Deportes Tolima, que eliminou o Corinthians em 2011, foi vice-campeão colombiano, perdendo o título dramaticamente para o Junior de Barranquilla

* o maior conhecedor de futebol latino-americano na imprensa brasileira

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Sobre o autor

Mauro Cezar Pereira nasceu em Niterói (RJ) e é jornalista desde 1983, com passagens por vários veículos, como as Rádios Tupi e Sistema Globo. Escreveu em diários como O Globo, O Dia, Jornal dos Sports, Jornal do Brasil e Valor Econômico; além de Placar e Forbes, entre outras revistas. Na internet, foi editor da TV Terra (portal Terra), Portal AJato e do site do programa Auto Esporte, da TV Globo. Trabalhou nas áreas de economia e automóveis, entre outras, mas foi ao segmento de esportes que dedicou a maior parte da carreira. Lecionou em faculdades de Jornalismo e Rádio e TV. Colunista de O Estado de S. Paulo e da Gazeta do Povo, desde 2004 é comentarista dos canais ESPN e da Rádio Bandeirantes de São Paulo.

Sobre o blog

Trazer comentários sobre futebol e informações, eventualmente em primeira mão, são os objetivos do blog. O jornalista pode "estar" comentarista, mas jamais deixará de ser repórter.