Topo

Mauro Cezar Pereira

Conheça os rivais do Cruzeiro na fase de grupos da Libertadores 2019

Mauro Cezar Pereira

07/03/2019 13h11

por Joza Novalis*

Rival do Cruzeiro no Grupo B: Emelec, Deportivo Lara e Huracán

Emelec

Primeiro colocado na tabela do Clausura 2018, embora tenha ficado sem o título, mas apenas o quarto colocado no Apertura, com pouco mais de 50% dos pontos conquistados, o Emelec fez pouco para o nível de investimentos em relação aos rivais. Só para se ter uma ideia, a Católica de Quito, em terceiro lugar, teve menos da metade dos investimentos de Los Eléctricos de Guayaquil. Em junho de 2018, o técnico argentino Mariano Soso assumiu o comando, em substituição ao uruguaio Alfredo Arias. De lá para cá vem tentando resolver o principal problema da equipe: falta de ideias, desempenhos ruins e incompatibilidade entre as propostas de seu treinador e o que fazem os principais jogadores em campo. Seu sucesso até aqui foi relativo.

Soso é um defensor das ideias bielsistas, mas seu estilo de jogo tenta associá-las ao pragmatismo do futebol atual. Embora deseje que suas equipes atuem de forma ofensiva, não abre mão de ter um sistema defensivo equilibrado e sólido. Só que ao menos no Apertura esta solidez foi uma verdadeira piada. Sua equipe levou 27 gols em 22 partidas. Neste início de 2019 a média é de um gol por jogo. Sinais de evolução já aparecem e são animadoras. Em defesa de Soso vale lembrar que caso sua preocupação fosse exclusivamente com o setor defensivo boa parte dos problemas já não existiriam. Porém ele não abre mão da ofensividade de sua equipe. Desta forma, a evolução na defesa ocorre de forma mais lenta, porém consistente.

O Emelec fez investimentos pesados, que não correspondiam em campo antes de começar a Libertadores 2019

Em parte, a evolução foi notada no maior comprometimento dos homens de frente com a recomposição, em parte, na melhora no posicionamento de seus zagueiros. Mas seu ataque precisa fazer mais gols. Há ainda o baixo aproveitamento de pontos como mandante na Libertadores. Na campanha desastrosa de 2018, a equipe obteve apenas um, contra o Santa Fe, na Colômbia. Em seu estádio, três derrotas. E ainda pior: seis gols sofridos e apenas um convertido. Soso pretende reconectar sua equipe com o forte apoio que ela recebe nas arquibancadas do Capwell. Um olhar mais atento sobre as três partidas como mandante escancara um problema que o jovem técnico argentino procurar resolver: o baixo aproveitamento das inúmeras chances criadas para chegar às redes.

Vários esquemas de jogo podem ser utilizados, mas nenhum deles deve se prestar a promover a defesa do jogo especulativo. E de fato é perceptível a busca constante pelo protagonismo com resultado positivo. A bola circula pelo chão na maior parte do tempo; a troca de passes procura ser rápida embora o avanço das linhas nem sempre ocorra de forma mecânica. Curiosamente isto pode resultar num problema de aparente ou real falta de ideias de seus jogadores sobre como resolver uma partida. Em algumas situações em que isto ocorreu, os adversários se deram conta de que o bicho não era tão feio e muitas vezes foram parar nas redes de Esteban Dreer. Nas quatro primeiras partidas da temporada atuou no 4-2-3-1, em casa e fora.

A linha de três apresenta dois extremos de velocidade e certa habilidade. No lado direito, o escolhido em geral é João Rojas, da cantera do clube. Sua evolução na leitura de jogo e na marcação têm sido um dos motivos da tímida, mas consistente melhoria do sistema defensivo. Garoto promete e nos convida a observá-lo com atenção. Em verdade, Roja é um extremo esquerdo que foi colocado na direita porque no elenco sobram bons jogadores para a esquerda e faltam na direita. No outro lado, a concorrência é grande, mas Bryan Cabezas deixou Billy Arce no banco e assumiu a titularidade. Para soltar a bola rápida para ambos os extremos, o Emelec conta com o talento de Gabriel Cortez, sobre quem paira no Equador uma desconfiança de que sua evolução.

Porém, o jogador que mais deve receber atenção da defesa cruzeirense é o artilheiro Brayan Angulo. Os números do "Cuco" impressionam. Na temporada anterior, chegou às redes 31 vezes em 45 partidas, numa média de quase 0,7 gols por jogo.  Sobra forma física, arremate potente, rapidez nas decisões, foco no jogo e visão de "killer" que não reconhece lado do campo: única coisa que vê é o arco. Sua movimentação no entorno da área e fora dela costuma ser ferina para defensores lentos e desavisados. O lado direito do Emelec tem funcionado melhor tanto para defender quanto para atacar. Desta forma, fica a dica para os brasileiros: maior parte dos gols sofridos pelos equatorianos ocorre pelo setor esquerdo do seu campo.

Deportivo Lara

O Deportivo Lara, da Venezuela, é o azarão do grupo nesta edição da Libertadores

Huracán

O Huracán é o 5º colocado na Superliga Argentina, mas não vence uma partida a cinco jogos. No ultimo duelo antes de enfrentar o Cruzeiro, o Globo foi com uma equipe quase toda reserva para enfrentar o Patronato, em Paraná. Entra no Grupo B para brigar por uma das vagas. O Huracán do técnico Antonio Mohamed é uma equipe que gosta de jogar sem a bola. Seu pragmatismo é mais perceptível do que preocupações com a beleza do espetáculo. Claro que isto tem um significado diferente para clubes argentinos em relação aos brasileiros. Mesmo que o técnico seja mais conservador, equipes argentinas invariavelmente dão um maior valor à posse e ao trato da bola do que as brasileiros com características defensivas.

O Globo vai a campo quase sempre num desenho 4-4-2, e em alguns jogos com o 4-2-3-1. Tanto num caso quanto noutro, há um dobre 5 defensivo e de forte combate. Quando sobe um dos laterais a atenção à cobertura costuma ser rigorosa e apresenta bons resultados. Dalmonte e Iván Rossi são os titulares; este último oferece combate, mas também sabe jogar, tem bom passe e tem futuro. No Huracán, apenas um lateral apoia de cada vez e em geral isto acontece pelo setor direito; mesmo em desvantagem não se vê os dois laterais atuando como alas.

A construção do jogo criativo ainda se ressente de do melhor encaixe de seus melhores jogadores ao esquema de do Turco Mohamed. Um dos destaques é o colombiano Andrés Roa, ex-Deportivo Cali, mas que ainda não assegurou vaga de titular definitivo no Globo. Javier Mendoza, que veio do Instituto de Córdoba é um estremo de forte recomposição pela esquerda, mas que além da velocidade sabe fazer o passe, no último terço.

Pelo lado direito, Auzqui se destaca no trabalho criativo, mas também ele nem sempre aparece entre os titulares. Desta forma, boa parte da criação de jogadas do Huracán ocorre através do volante Iván Rossi. Porém, nem sempre ele tem liberdade para deixar a "volância" e passar do meio-campo. Seu passe curto tem qualidade, mas o longo ainda se ressente de melhor acabamento. Para atenuar o problema, Mohamed tem insistido no recuo dos dois atacantes até o meio campo. Desta forma, tanto Lucas Gamba quanto Lucas Barrios circulam por todo o campo, se fazendo de atacantes, mas também de armadores para quem se aventura a ocupar os espaços que deixam no ataque.

Dos 11 titulares, ao menos sete deles têm idade acima dos 30 anos, três deles estão acima dos 35. Prova da importância de Mohamed aos veteranos está no fato de que apenas dois ou três dos 11 jogadores acima dos 30 no elenco não vão para o jogo. Por outro lado, o Huracán vem praticando a promoção equilibrada de jovens. No elenco, 11 são jovens de até 23 anos.

Desses, destaques para o ótimo zagueiro Raúl Salcedo, de 21 anos, e que faz parte da seleção do Paraguai. Curiosamente, outro jovem talentoso é Omar Alderete, de 22 anos e que também é paraguaio. Trata-se de um ótimo zagueiro canhoto, que ainda pode atuar como lateral pela esquerda. Walter Pérez, meia que atua como extremo, nem sempre aparece entre os titulares, mas também merece atenção, pela habilidade que consegue imprimir às jogadas em velocidade.

Antonio Mohamed é técnico linha dura, de forte personalidade e que não permite ingerências de jogadores ou dirigentes no seu comando. Posse de bola não é essencial, mas a pressão para recuperá-la, sim. Além disso, o estilo de jogo está relacionado às características e limitações de seu elenco. O Huracán vai ser difícil

O Huracán perdeu o técnico Gustavo Alfaro para o Boca Juniors e Antonio "El Turco" Mohamed assumiu o comando do time

Deportivo Lara

Campeão do Clausura 2018 venezuelano, torneio que acontece no segundo semestre do ano, teve a melhor defesa, com 14 gols sofridos em 23 jogos. No Apertura, havia ficado em sexto, mas tivera a segunda melhor defesa com 15 gols sofridos, porém em 19 partidas. O técnico Leonardo González está no comando da equipe desde 2016 e tem contrato renovado até 2020. É um treinador que não foge e aceita a realidade dos fatos, mas que não descarta a possibilidade de que o Lara possa surpreender as grandes equipes da América do Sul. E a maneira para consegui-lo via de regra passa pelo estudo de todos os pontos positivos e negativos de seus rivais. Dentro das limitações próprias de um clube do país, seus resultados podem ser considerados bons.

González é um estudioso e um trabalhador incansável. Os mapas de seus rivais são traçados assim que eles saem dos sorteios da Conmebol. Então, em conjunto com demais membros de sua comissão técnica, passa a acompanhar os futuros adversários da Libertadores até a estreia de sua equipe na competição. Consegue ver a evolução dessas equipes, o encaixe dos reforços e por fim chega à uma descrição final detalhadíssima sobre cada um deles. Em seguida, o treinador não só traduz para o elenco os dados que possui como passa a explorar as grandezas e limitações dos adversários nos treinamentos do Lara. Algo muito sólido na equipe venezuelana é o conjunto, embora após boas campanhas perca vários de seus jogadores.

Mas aos poucos parece que alguns clubes locais têm aprendido a lidar com a situação. E seurge outro jogador no elenco com características parecidas. Quando isto não acontece, o substituto é recrutado na base, ou seja, na cantera ou em outros clubes profissionais ou amadores do próprio país. O Grupo B é bem difícil para o Lara, mas a equipe venezuelana teve um bom tempo a estudar e se preparar para os seus duelos. Além disso, há alguns na equipe que sustentam a qualidade ou a competitividade do time. O meia Jorge Yriarte é o mais habilidoso e também o responsável por construir as melhores jogadas. Nas juniores era segundo volante, mas pelos profissionais atua como meia. Além do bom passe, tem forte chegada às imediações da área para buscar o arremate.

O outro jovem talentoso é o extremo Freddy Vargas, que potencializa a velocidade pelo lado esquerdo. Na cantera, mostrava certa irresponsabilidade tática, mas se adequou às necessidades da equipe principal. Quando não começa jogando, tende a entrar durante os 90 minutos. Esses dois atletas merecem a atenção dos clubes brasileiros. Mas o jogo do Lara é bem dependente do trabalho de seu centroavante. O técnico costuma variar a forma de jogar no ataque, a partir do tipo de camisa 9 que ele leva a campo. A referência para o centroavante de movimentação dentro e fora da área é Jesús Hernández, mas na linha de sempre dispor de ao menos dois jogadores com características semelhantes, ele tem no banco de reservas Richard Figueroa e Johan Arrieche.

Porém, quando González quer um camisa 9 de forte presença no interior da área o escolhido é o jovem Jaime Moreno, que tem no banco de reservas Jaime Otero, Luis Simigliani como os seus substitutos. Nos dois casos o trabalho do camisa 9 é um dos segredos do sucesso local do Deportivo Lara. Em ambos os casos, o pivô costuma ser bem praticado na frente da área, mas quando a escolha é pelo centroavante de movimentação, ele costuma se dirigir para os lados do campo de forma a abrir espaços para os meias se infiltrarem na área como atacantes. Dentro de casa, este tipo de camisa 9 costuma ser o escolhido para a titularidade. Bernaldo Manzano costuma ser o camisa 5 mordedor, de forte combate ao portador da bola e boa cobertura dos laterais.

A camisa 8 da equipe tem ao menos uns três jogadores para vesti-la. Mas se contra os brasileiros González levar a campo o jovem Manuel Palma pode valer muito a pena se atentar para a categoria de mais um garoto promissor. Prova de que o Lara pode arriscar nesta atual Libertadores está no fato de que se for eliminado na fase de grupos nada vai mudar no comando  da equipe e na visão favorável que a torcida tem em relação à sua equipe. Foi assim em 2018, quando os venezuelanos foram eliminados da chave que tinha Corinthians, Independiente e Millonarios. Mesmo diante da goleada de 7 a 2 que sofreu para o "Timão" a atenção se voltou aos elogios à comissão técnica e jogadores em virtude das duas vitórias obtidas em um dos grupos da morte daquela Libertadores.

* o maior conhecedor de futebol latino-americano na imprensa brasileira

 

follow us on Twitter

follow me on youtube

follow me on facebook

follow us on instagram

follow me on google plus

Sobre o autor

Mauro Cezar Pereira nasceu em Niterói (RJ) e é jornalista desde 1983, com passagens por vários veículos, como as Rádios Tupi e Sistema Globo. Escreveu em diários como O Globo, O Dia, Jornal dos Sports, Jornal do Brasil e Valor Econômico; além de Placar e Forbes, entre outras revistas. Na internet, foi editor da TV Terra (portal Terra), Portal AJato e do site do programa Auto Esporte, da TV Globo. Trabalhou nas áreas de economia e automóveis, entre outras, mas foi ao segmento de esportes que dedicou a maior parte da carreira. Lecionou em faculdades de Jornalismo e Rádio e TV. Colunista de O Estado de S. Paulo e da Gazeta do Povo, desde 2004 é comentarista dos canais ESPN e da Rádio Bandeirantes de São Paulo.

Sobre o blog

Trazer comentários sobre futebol e informações, eventualmente em primeira mão, são os objetivos do blog. O jornalista pode "estar" comentarista, mas jamais deixará de ser repórter.