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Mauro Cezar Pereira

Conheça os rivais do Atlético-MG na fase de grupos da Libertadores 2019

Mauro Cezar Pereira

06/03/2019 17h59

por Joza Novalis*

Rivais do Atlético Mineiro no Grupo E: Nacional, Cerro Porteño e Zamora

Nacional

Nada de novo no Uruguai: Nacional e Peñarol seguem duelando na parte de cima da tabela e disputando um campeonato à parte dos demais. Raro é o caso em que um ou outro não conquista o título local. Ou seja, os bons números do Nacional pouco importam para o Galo. Ao menos os números positivos. Mas os negativos são sintoma de que alguma coisa não está bem. Em 2019, o Bolso ainda não venceu nenhuma das quatro partidas que disputou.

No comando do banco desde o início do ano, o técnico argentino Eduardo Domínguez não pode ser responsabilizado pelos resultados, mas pela evolução de sua equipe. Todavia parece que a equipe não se encontra e a paciência da torcida com o treinador argentino chega a ser um assombro, já que o seu trabalho ainda está no início e foram somente quatro partidas no ano. A primeira linha tende a recuar de forma excessiva e como nem sempre a segunda acompanha esse movimento, surge um longo espaço com pouco combate para o domínio e arremates de longa distância.

Tanto pela esquerda quanto pela direita a defesa se mostra falha. Contra o Racing os principais problemas foram pela esquerda, enquanto que contra o Wanderers foram pela direita. Se a defesa tende a recuar excessivamente sua primeira linha, quando é atacada, esta mesma linha tende a avançar também de forma excessiva quando a equipe está na busca do resultado. Devido ao momento irregular, é bem provável que um bom resultado contra o Galo, ao menos no Horto, já seja um empate. Neste caso, o mais interessante para a equipe do Levir é que o primeiro gol saia rápido, de maneira a abrir o que deverá ser uma defesa mais cerrada e mais protegida do que tem sido na competição local.

Parque Central, estádio do Nacional, passou por reformar e modernização: cancha da Copa do Mundo de 1930 na Libertadores

Por vezes desinteresse e apatia marcam essa equipe do Nacional. Isto interfere diretamente na concentração em campo, sobretudo no combate ao portador da bola. Ninguém aperta, combate ou dar o bote com a energia necessária para roubar a bola de seu adversário. É como se os marcadores em nenhum momento acreditassem na eficiência da equipe desafiante. A mesma apatia se converte em desespero e bagunça tática quando quando a equipe toma o gol e se vê atrás do marcador. A partir de então, os laterais viram volantes ou extremos, atuando quase só no terceiro terço; meias se misturam com os atacantes e os volantes, tipicamente de marcação e corte, passam a armar o jogo. Em tais situações, a chance de dar certo se mostra reduzida, enquanto a possibilidade de levar mais gols se mostra real e apavorante. E isto também reforça a importância do Galo em buscar o protagonismo e tentar fazer o primeiro gol.

Este quadro é bem escuro e decepcionante, mas ele não diz tudo sobre o que podem ser os duelos contra o Atlético. No mínimo no quesito apatia a equipe de Eduardo Domínguez será completamente diferente e não só pela importância da competição, mas também pela importância do Galo. Uma das piadas que circula em Montevidéu é que para um jogador uruguaio acordar basta falar que o jogo é contra brasileiros. Outra prova das possíveis dificuldades está nos duelos que este próprio Nacional tem feito contra brasileiros nos últimos anos.

O esquema tático contra os mineiros é uma incógnita, pois Domínguez andou variando bem nos jogos locais e não se mostrou convencido sobre a importância de nenhum deles. O fato é que o reforço à marcação seja bem possível. Além dos doble 5 defensivo é bem provável que ao menos um lateral guarde posição. Além disso, não estão descartados que sua equipe entre com uma primeira linha de cinco e com o mesmo doble 5 de caráter defensivo. Neste caso, possível que o banco de reservas sobre para um dos extremos. Foi assim contra o Peñarol na decisão da Superliga local, no primeiro compromisso da atual temporada para as duas equipes.

Cerro Porteño

O Cerro Porteño foi o campeão do Clausura em 2017, mas viu o maior rival, Olímpia, comemorar as conquistas do Apertura e Clausura de 2018. Em ambas ocasiões o ficou com o vice. No Paraguai isto não é qualquer coisa. A pressão por conquistas já é bem forte entre os torcedores e alguns dirigentes do clube. E por falar em pressão, vale lembrar que o Ciclón de Barrio Obrero vive pressionado historicamente a conquistar uma Libertadores, pois o seu maior rival possui três canecos da maior competição da Conmebol na sua sala de troféus.

Desde o segundo semestre de 2018, Fernando Jubero trabalha como técnico do Cerro. Isto quer dizer que é uma equipe que valoriza a posse de bola, o jogo de posição, troca de bola no campo rival e sobretudo ofensividade. Todavia, o que mais se viu no seu Cerro Porteño foi uma nítida evolução no sistema defensivo, que passou a levar menos gols. A marcação é forte e não costuma falhar quando os atacantes marcadores são superados no primeiro combate ao jogo do rival.

Muito se fala da capacidade de Jubero em armar equipes interessantes, com um trato requintado da bola e adesão total dos atletas à sua filosofia de futebol. Contudo, o treinador espanhol sempre deu valor à marcação e costuma estudar seus rivais não apenas para descobrir suas possíveis lacunas futebolísticas mas também seu caráter ofensivo e à forma como em geral conseguem chegar às redes. Em campo, seus atletas parecem atuar com as descobertas de Jubero anotadas num pedaço de papel.

Pelos ajustes da equipe e pela presença de bons jogadores no elenco, o Cerro Porteño tem tudo para ficar com uma das vagas do Grupo E. Um dos destaques é o centroavante Diego Churín, de forte arremate de fora da área, excelente jogo aéreo e um pivô qualificado que tem sido decisivo para boa parte dos gols da equipe paraguaia. Atuando no Brasil, o Cerro deve ceder poucos espaços para o Galo, pressionar para quebrar a linha de passe e acionar os seus extremos sempre que a bola for recuperada ainda bem antes da meia cancha.

Já no Paraguai, o Cerro deve se fazer de protagonista e propor o jogo, mas sem o descuido com a marcação. Mas se Diego Churín é um dos destaques da equipe isto pode ser positivo para o Galo. Com boa marcação sobre o camisa 9 o Ciclón perde muito do seu jogo ofensivo, pois grande parte das jogadas passa por ele, no campo de ataque. E este tem sido o principal limite da equipe paraguaia e o motivo pelo qual o Cerro mostra dificuldades de fazer gols.

Aos 35 anos, Nelson Haedo Valdez, com passagens por Alemanha e Espanha, ainda se destaca na equipe do Cerro Porteño

Zamora

O Zamora de Barinas é o atual campão do Apertura da Venezuela e também o supercampeão do pais, título que se origina da disputa entre os vencedores de Apertura e Clausura. Trata-se de uma equipe pragmática, voltada para a conquista de um resultado possível. Se num tal contexto, o empate é o resultado que basta, o Zamora entra em campo pensando apenas nele e não propriamente numa vitória.

Tudo bem que atuar com equilíbrio defensivo é algo que se espera dos clubes venezuelanos, nas competições da Conmebol. Mas esta filosofia é aplicada antes de quaisquer coisas nas competições locais, diante de equipes de certo nível, e de outras de minúsculo porte, se comparadas com uma esquadra como a do Zamora. E foi adotando esta filosofia que o técnico Ali Cañas resgatou a equipe das humilhações locais para torná-lo um dos mais difíceis rivais de ser batido tanto dentro quanto fora de Barinas.

Assim como o Lara, outro representando venezuelano na Libertadores/2019, o Zamora vem aprendendo a lidar com a perda constante de seus talentos. O jeito tem sido buscar outros jovens nas canteras do clube, em clubes menores e em clubes amadores do futebol do país. Se poucas palavras pudessem resumir o Zamora elas seriam "o equilíbrio a serviço da busca incessante pelo resultado possível". E isto inclui a tentativa de superar seus rivais no controle mental de um duelo e na intensidade constante em todas as fases do jogo. Esta postura expressa um profundo amadurecimento nas mentalidades futebolísticas na Venezuela. E se isto é assim este Zamora é uma espécie de símbolo deste momento.

Para Ali Cañas estilos, esquemas e todas as ideias futebolísticas possuem uma incontestável relevância, mas não são mais importantes do que fazer o possível e o necessário para se obter um resultado. Falando assim até parece que o Zamora é um time truculento, nos quais seus jogadores só sabem chutar a bola para um lado qualquer. Longe disso, esta atitude não contemplaria a própria filosofia de Cañas, que se expressa na busca da obtenção de um resultado possível. Seus jogadores sabem jogar com a bola e se for necessário sua posse tende a ser praticada em momentos-chave das partidas.

O Zamora joga uma partida por vez, o que significa que neste momento nem pensa no Galo, mas apenas no próximo rival. Tudo é trabalhado para que os jogadores valorizem o momento, o próximo rival e o resultado possível. Mas até em virtude de os jogadores comprarem a ideia do técnico temos a falsa impressão de que o elenco do Zamora seja composto por jogadores experientes e quase veteranos. Contudo, o Zamora tem um dos elencos mais jovens desta atual Libertadores. Dentre eles, vale destacar zagueiro e também lateral-direito Kevin De la Hoz, de 20 anos, e o atacante Darwin Matheus, de apenas 17 anos. Este jogador é um dos mais promissores do futebol local.

Além de tudo que foi dito, vale lembrar do dinamismo que os jogadores do Zamora praticam dentro de campo. Bem provável que a leitura do texto até aqui tenha levado muitos à conclusão de que o Zamora atua com dois ou três volantes defensivos. Também não é bem assim. O esquema vaira de jogo a jogo, mas o meio-campo sempre tem quatro ou cinco jogadores. Raramente há mais de um volante defensivo entre eles. Quanto às limitações do Zamora elas estão na pouca experiência internacional da grande maioria de seus jogadores e também no jogo aéreo. Este sim é um ponto fraco do Zamora, embora o técnico Cañas tem feito constantes trabalhos específicos para atenuar ou resolver o problema.

O Zamora entra como azarão no grupo e é treinado pelo venezuelano José Alí Cañas

* o maior conhecedor de futebol latino-americano na imprensa brasileira

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Sobre o autor

Mauro Cezar Pereira nasceu em Niterói (RJ) e é jornalista desde 1983, com passagens por vários veículos, como as Rádios Tupi e Sistema Globo. Escreveu em diários como O Globo, O Dia, Jornal dos Sports, Jornal do Brasil e Valor Econômico; além de Placar e Forbes, entre outras revistas. Na internet, foi editor da TV Terra (portal Terra), Portal AJato e do site do programa Auto Esporte, da TV Globo. Trabalhou nas áreas de economia e automóveis, entre outras, mas foi ao segmento de esportes que dedicou a maior parte da carreira. Lecionou em faculdades de Jornalismo e Rádio e TV. Colunista de O Estado de S. Paulo e da Gazeta do Povo, desde 2004 é comentarista dos canais ESPN e da Rádio Bandeirantes de São Paulo.

Sobre o blog

Trazer comentários sobre futebol e informações, eventualmente em primeira mão, são os objetivos do blog. O jornalista pode "estar" comentarista, mas jamais deixará de ser repórter.