Duas semanas após o incêndio, pais desabafam. Flamengo segue em silêncio
Ao amanhecer desta sexta-feira a maior tragédia da história do Flamengo e uma das mais terríveis de todo o futebol brasileiro completará duas semanas. Uma tortura que chega a 14 dias e se estenderá para sempre, marcando o clube eternamente. Mas com o tempo, as pessoas não se lembrarão mais dos dez meninos mortos no incêndio. Por que é assim que as coisas acontecem. Nossas vidas seguirão, mas jamais serão as mesmas as dos pais, irmãos e demais pessoas próximas daquelas jovens vítimas.
Após o fracasso na intermediação do Ministério Público, as conversas migraram para o Tribunal de Justiça. Sem acordo e com familiares dos garotos deixando o local aborrecidos. E desabafando — clique aqui e leia matéria de Vinícius Castro. Quanto vale a vida de um desses meninos? Essa é a pergunta mórbida que se repete. Há parâmetros? Quanto se pagou de indenização após outras tragédias fatais? Perguntas que se repetem e conduzem para uma negociação. Sim, após sepultados os rapazes, virou uma negociação.
Não vejo como comparar, por exemplo, a morte do homem que operava guindaste na construção do estádio do Corinthians e dez menores de 14, 15 anos vítimas de um incêndio dentro das instalações do Flamengo. Um era adulto e foi trabalhar ciente de que havia risco em sua atividade. Não deveria acontecer um acidente que lhe rouba a vida, mas o profissional sabia da existência do risco. Já os rapazes, menores de idade, foram dormir imaginando estar absolutamente seguros. Não estavam. É bem diferente.
E como em toda negociação, um lado pede mais, o outro oferece menos, até que se chegue a um ponto intermediário. No entanto, não estamos falando de uma venda, permuta ou uma multa por atraso de pagamento. Foram dez vidas abreviadas aos 14, 15 anos no dormitório do clube. Isso semanas depois de, com toda pompa, a gestão encerrada em dezembro inaugurar o famoso Centro de Treinamentos de R$ 23 milhões.
Entendo que nesse cenário podem aparecer aproveitadores dispostos a induzir familiares a pedir mais dinheiro, numa macabra tentativa de se aproveitar da tragédia. Eventualmente recebendo uma comissão pelos serviços prestados a pais e mães desnorteados. Mas não há como tratar o que aconteceu colocando em pauta as dúvidas quanto ao futuro deles no futebol, pelo fato de a maioria dos meninos não conseguir se profissionalizar.
Se de cada 94 jogadores de 15 anos apenas um chega ao time de cima, significa que os outros 93 ao menos tentaram. Tiveram a oportunidade que foi arrancada de 10 meninos pelo incêndio de duas semanas atrás. Só isso basta para que o tema seja tratado como algo único, sem paralelos, porque é. Os pais, até então em silêncio, desabafaram. E o Flamengo segue em silêncio, aparentemente com ouvidos apenas para seus orientadores jurídicos.
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