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Mauro Cezar Pereira

Flamengo deveria fazer do incêndio seu "Hillsborough", para jamais esquecer

Mauro Cezar Pereira

12/02/2019 14h33

Crianças com camisas de Everton e Liverpool no tributo às vítimas de Hillsborough em 2012

Daqui a dois dias o time profissional do Flamengo voltará a campo. Me dá vontade de dizer, e daí? Mas falarei e escreverei sobre o jogo. É o trabalho, compromisso profissional, não há outra opção. Mas é pequeno o intervalo, inferior a uma semana, entre o incêndio no Centro de Treinamentos e a bola rolando na semifinal da Taça Guanabara, diante do Fluminense. Não houve tempo para que entendêssemos todo esse absurdo, tampouco  aceitar o que seremos obrigados a engolir: a morte dos dez meninos.

Ok, a nova direção do clube, que herdou aquela estrutura, parece estar mesmo atenta às suas obrigações para com as vítimas e suas famílias. Mas é preciso responder às perguntas da sociedade por intermédio da imprensa, o que ainda não aconteceu. Já o ex-presidente, que teve a estrutura do CT erguida em sua gestão, após período de sepulcral silêncio, concedeu, à Rádio Globo, sua primeira entrevista. Quase quatro dias após a tragédia! Ainda não encontro a palavra adequada para qualificar o que ouvi.

Fato é que o Flamengo precisa recomeçar do zero, ser refundado. Mexer no nome, no escudo, em seus símbolos oficiais, ali inserir algo que nos faça lembrar, para sempre, o que aconteceu em 8 de fevereiro de 2019. Por que no Brasil temos a tendência ao esquecimento, e tragédias são tão frequentes, comuns, que as pessoas praticamente substituem umas pelas outras na memória. Brumadinho foi ofuscado pelo incêndio, que fica em segundo plano no momento da morte de Ricardo Boechat.

Cabe ao Flamengo, e a cada rubro-negro, não esquecer, nem deixar que esqueçam, aquilo que se passou no CT. Como o Liverpool e sua torcida nunca deixarão de lembrar e homenagear as 96 vítimas da tragédia de Hillsborough. Em 15 de abril de 1989, no estádio do Sheffield Wednesday, Liverpool e Nottingham Forest se enfrentariam nas semifinais da Copa da Inglaterra e a superlotação de um setor matou quase uma centena e feriu outros 766 fãs dos Reds. Aquilo mudou o futebol no Reino Unido.

Falhas da polícia causaram o desastre. Mas o Estado só assumiu seu erro quase 26 anos anos depois, em função da luta dos familiares das vítimas, com apoio maciço da torcida do clube e de outros tantos, como o rival local, Everton. Os rubro-negros podem e devem fazer o mesmo. Alguém escreveu a pior e mais macabra página na história do clube. É preciso achar as digitais dos responsáveis. Nem que leve muito tempo, como após Hillsborough. Os ingleses não esqueceram, não podemos esquecer.

 

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Sobre o autor

Mauro Cezar Pereira nasceu em Niterói (RJ) e é jornalista desde 1983, com passagens por vários veículos, como as Rádios Tupi e Sistema Globo. Escreveu em diários como O Globo, O Dia, Jornal dos Sports, Jornal do Brasil e Valor Econômico; além de Placar e Forbes, entre outras revistas. Na internet, foi editor da TV Terra (portal Terra), Portal AJato e do site do programa Auto Esporte, da TV Globo. Trabalhou nas áreas de economia e automóveis, entre outras, mas foi ao segmento de esportes que dedicou a maior parte da carreira. Lecionou em faculdades de Jornalismo e Rádio e TV. Colunista de O Estado de S. Paulo e da Gazeta do Povo, desde 2004 é comentarista dos canais ESPN e da Rádio Bandeirantes de São Paulo.

Sobre o blog

Trazer comentários sobre futebol e informações, eventualmente em primeira mão, são os objetivos do blog. O jornalista pode "estar" comentarista, mas jamais deixará de ser repórter.